3º dia – Visitando Bermeo e a mística San Juan de Gaztelugatxe, com um toque de surf em Mundaca
Começamos o dia explorando a região de carro, com a primeira parada em San Juan de Gaztelugatxe, no município de Bermeo. O local ganhou fama internacional por ser o cenário de Dragonstone, da famosa série Game of Thrones. Depois de apreciar as vistas deslumbrantes, seguimos para as cidades de Bermeo e Mundaca, onde desfrutamos da atmosfera costeira e da beleza natural.
Por fim, chegamos a Guernica y Luno, uma cidade marcada pela história e eternizada pela famosa pintura de Picasso. Será aqui que passaremos a noite, em um lugar carregado de simbolismo e importância cultural.
Bermeo
Bermeo, uma das cidades mais populosas da Reserva da Biosfera de Urdaibai, com cerca de 17 mil habitantes, é uma vila profundamente enraizada na tradição marítima. Atualmente, sua economia se baseia principalmente na pesca e na produção de conservas de peixe, mantendo viva sua conexão com o mar.
Fundada em 1236, Bermeo manteve o título de “Cabeça de Biscaia” de 1476 a 1602, sendo a principal vila do Señorío de Vizcaya. Esse status lhe garantiu certos privilégios nas Juntas Generales (Assembleias Gerais) de Biscaia, onde Bermeo possuía o primeiro voto e assento. A importância da cidade era evidente nos juramentos que os reis prestavam na Igreja de Santa Eufêmia cada vez que visitavam a província, incluindo o Rei Fernando, o Católico, que em 31 de julho de 1476 reafirmou Bermeo como “Cabeça de Biscaia”.
Apesar da fundação de Bilbao em 1300, que contribuiu para o declínio de Bermeo, a cidade continuou a prosperar no século XVI, mantendo a maior e mais importante frota pesqueira da península. Ao longo dos séculos, Bermeo se destacou pelo desenvolvimento da pesca e das indústrias auxiliares, como a construção naval.
O século XVII foi um período de grande crescimento econômico. Mesmo após os conflitos causados pela Guerra da Independência Espanhola e pelas Guerras Carlistas, Bermeo experimentou um novo período de prosperidade por volta de 1872, impulsionado novamente pela pesca.
San Juan de Gaztelugatxe: um cenário de história e fama em Game of Thrones
Distância: 34 km (de Bilbao). Duração: 00:39 horas. Horário: 10:00 – 19:00 horas
Para visitar San Juan de Gaztelugatxe, é necessário acessar o site https://www.tiketa.eus/gaztelugatxe e verificar se é preciso fazer o registro de visitação. Durante o verão e nos fins de semana ao longo do ano, o registro é obrigatório. Embora seja gratuito, é necessário escolher um horário de chegada para distribuir melhor o público ao longo do dia, devido ao grande número de visitantes.
Nós fizemos o registro para as 10:15 horas, informando que éramos um grupo de 3 pessoas. Se você for de carro, é recomendável chegar com antecedência, pois há poucos lugares para estacionar e o local costuma ficar lotado. Mas é necessário destacar que só pode entrar 10 minutos antes da hora marcada.
Gaztelugatxe é uma ilhota conectada ao continente por uma ponte de dois arcos. No topo da ilha, há uma pequena ermida dedicada a San Juan, que data do século X, construída sobre as ruínas de um antigo castelo pertencente ao Reino de Navarra. O nome Gaztelugatxe vem do basco, onde gaztelu significa “castelo” e atx significa “rocha/pedra”, formando “rocha do castelo”.
A pequena igreja, dedicada à Decapitação de São João, geralmente está fechada. Em 1053, ela foi doada por Íñigo López, Senhor de Biscaia, ao mosteiro de San Juan de la Peña, em Aragão. Ao longo de sua história, sofreu vários ataques e incêndios, incluindo um ataque de corsários liderados por Francis Drake em 1593. A ermida foi destruída pela última vez em 1978, mas foi reaberta em 1980.
A ermida abriga diversas oferendas de marinheiros que foram salvos, e os barcos de pesca que partem de Bermeo cumprem um ritual ao passar por Gaztelugatxe, pedindo sorte e bom tempo nas campanhas de pesca.
As escadas, conhecidas como as “pegadas de São João Batista“, são dotadas de poderes curativos, segundo a tradição. Para curar calos, por exemplo, os peregrinos colocam os pés nas escadas, enquanto chapéus ou lenços são deixados para curar dores de cabeça. Diz-se ainda que, nas grutas da rocha, a Inquisição aprisionava pessoas acusadas de bruxaria.
E, como muitos já sabem, Gaztelugatxe ganhou fama como cenário de Game of Thrones, onde foi filmada a icônica Pedra do Dragão. Embora o castelo tenha sido criado digitalmente, a beleza natural do local fez de Gaztelugatxe o cenário perfeito para Daenerys Targaryen e seus dragões.
A subida até San Juan de Gaztelugatxe é, sem dúvida, desafiadora, mas o esforço de escalar as escadas esculpidas na rocha é recompensado com vistas espetaculares e a satisfação de estar em um lugar tão repleto de história e tradições. O tempo não colaborou muito, com chuva em boa parte do percurso, mas conseguimos aproveitar alguns momentos de sol.
Cristina e eu conseguimos chegar até a ermida, mas minha mãe precisou parar um pouco antes, num banco que oferecia vistas igualmente impressionantes, já que a subida foi bastante puxada para ela. Mesmo com a ermida fechada, foi possível espiar pelo vidro e tirar uma foto do interior, e o resultado ficou surpreendentemente bom.
Distância: 8,4 km (de San Juan de Gaztelugatxe à cidade de Bermeo). Duração: 22 minutos.
Se você está planejando visitar Bermeo de carro durante o verão, fique atento: a circulação e o estacionamento no centro da cidade são restritos aos residentes, e entrar na área central pode resultar em uma multa. Para evitar problemas, optamos por estacionar em um estacionamento público na entrada da cidade, o que facilitou nosso passeio sem preocupações.
Porta de São João: um vestígio do século XIV
A Porta de São João é o último vestígio das sete portas que faziam parte da muralha que cercava a vila de Bermeo no século XIV. Naquela época, a muralha foi erguida para proteger a cidade, e hoje, essa porta é o único remanescente dessa fortificação histórica. Sua estrutura impressiona pela preservação e pela largura, que nos transporta diretamente para a era medieval.
Igreja de Santa Maria
Na Praça Sabino Arana se encontra a igreja mais nova de Bermeo, construída no século XIX e projetada pelo arquiteto Silvestre Pérez. A nova construção se tornou necessária quando a antiga Igreja de Santa María de la Tala foi demolida devido ao seu mau estado de conservação. Com o grande número de fiéis em Bermeo, as outras igrejas da cidade não conseguiam acomodar todos, o que levou ao início das obras em 1823. A igreja foi inaugurada em 1866, mas, mesmo assim, não foi totalmente concluída, tanto no interior quanto no exterior. Um exemplo é a torre, que só foi finalizada em 1899.
A estrutura do edifício é de estilo neoclássico, com duas torres nas laterais. A torre do lado direito é a torre sineira, enquanto a torre do lado esquerdo nunca foi construída. Entre as torres, o pórtico se destaca com uma fileira de colunas que sustentam o frontão triangular. O design deste edifício lembra mais um templo romano ou grego do que uma igreja católica, proporcionando uma visão arquitetônica incomum para quem visita Bermeo. Infelizmente, não conseguimos ver o interior da igreja porque estava fechada durante nossa visita.
Prefeitura de Bermeo: uma mistura de estilos
Também na Plaza Sabino Arana, em frente à Igreja de Santa Maria, esse prédio combina história e arquitetura. Construído em 1733 e ampliado em 1929, quando o quarto andar foi adicionado, a construção se destaca pela mistura de estilos. Os três primeiros andares apresentam a sobriedade característica da época, enquanto o quarto andar reflete um estilo mais eclético.
Torre Ercilla: a última torre medieval de Bermeo
A Torre Ercilla é a única das 30 torres que, na Idade Média, defendiam a cidade de Bermeo e permanece de pé até hoje. Localizada estrategicamente acima do Puerto Viejo, a torre se finalizou no final do século XV e serviu como residência da família Ercilla. Entre seus membros, destacam-se Fortún García de Ercilla e Alonso de Ercilla y Zúñiga, autor do épico poema La Araucana.
Por séculos, a torre teve vários usos, como mercado de peixe, casa de pescadores e entreposto. Atualmente, ela abriga o Museu do Pescador, um tributo à tradição marítima de Bermeo. Infelizmente, não tivemos a oportunidade de entrar e explorar seu interior.
Perto da Torre Ercilla, encontramos o Monumento a la Familia de Pescadores, uma homenagem às famílias dos pescadores de Bermeo. A escultura destaca a importância da pesca para a vida da cidade e suas profundas tradições marítimas. As figuras humanas retratam a dura realidade e o cotidiano das famílias que dependiam do mar, muitas vezes esperando ansiosamente o retorno seguro de seus entes queridos.
Além disso, desse ponto, há um mirante que oferece excelentes vistas para o Puerto Viejo e o centro histórico da cidade, com a Igreja de Santa Eufêmia, tornando o local uma parada imperdível para quem visita Bermeo.
Passeio pelo Puerto Viejo: casas coloridas e tradições marítimas
Um passeio pelo porto velho de Bermeo, apreciando as vistas das encantadoras casas com fachadas coloridas e os barcos em primeiro plano, é, sem dúvida, uma das melhores experiências para se fazer na cidade. O porto, que se tornou o segundo mais importante de Biscaia, oferece uma série de atrativos, incluindo a famosa fonte Três Cantos, a mais antiga da região, e diversas esculturas que homenageiam a tradição marítima local. Situada junto ao porto velho, está a igreja mais antiga da cidade e também a mais importante, a Igreja de Santa Eufêmia, já que os antigos reis lá viajavam para prestar juramento. Acredita-se que se fundou no século XIII, ao mesmo tempo que a vila.
Depois de explorar parte de Bermeo, chegou a hora do almoço! Escolhemos um dos restaurantes localizados no Parque Lamera, o Restaurante Lamera. Mais uma vez, optamos pelo típico “menú” espanhol, com opções como sopa de lentilhas ou anchovas fritas, entre outros pratos. O preço foi econômico, embora a quantidade de comida não tenha sido muito grande. Ainda assim, foi uma boa escolha para recarregar as energias e continuar explorando a cidade.
Praça de São Francisco: história e arte em Bermeo
Na Praça de São Francisco encontra-se o histórico Convento de São Francisco, construído em 1357. O convento se compõe por uma igreja gótica, um claustro e a residência. Apesar dos esforços do papa para fechar o convento anos depois, a tentativa foi sem sucesso.
A igreja, datada do século XVI, possui uma única nave gótica. Ao longo dos séculos, a residência passou por várias modificações e serviu a diversos propósitos, incluindo quartel, escola náutica e tribunal. Curiosamente, o mercado de alimentos da cidade acontecia no claustro do convento.
Além disso, na praça, você encontrará duas esculturas notáveis: a Leiteira, que homenageia as tradições locais, e a Taraska, ambas representando parte da rica cultura de Bermeo.
Mundaca (Mundaka)
Distância: 4 km (de Bermeo). Duração: 6 minutos.
Continuamos nossa viagem pelo litoral de Biscaia e, desta vez, chegamos à charmosa cidade de Mundaca. Novamente, é importante ficar atento ao estacionamento, já que no centro da cidade ele é restrito aos residentes. Optamos por deixar o carro na estrada, antes de entrar na cidade.
Com cerca de 2.000 habitantes, Mundaca está localizada na margem esquerda da foz da ria de Mundaca. Segundo uma lenda local, o nome da cidade tem origem na expressão latina munda aqua (água limpa). Conta-se que um navio vindo da Escócia chegou à costa de Mundaca, trazendo uma princesa banida de suas terras. Os escoceses, maravilhados pela pureza da água da região, comparada às águas turvas da ria de Urdaibai, chamaram o local de Munda Aqua. Essa princesa, segundo a lenda, teria um filho chamado Jaun Zuria, que se tornaria o primeiro Senhor de Biscaia. A lenda também explicaria por que Mundaca ocupava o primeiro lugar entre as anteigleisas de Biscaia.
Há também especulações sobre a chegada de vikings à região, o que, segundo alguns autores, justificaria a presença de jovens loiros de olhos azuis na costa biscaia, em contraste com o tipo basco mais comum no interior. Alguns relatos sugerem a presença viking no século IX, com base em crônicas árabes, textos medievais e dados antropológicos, enquanto outros acreditam que eram, na verdade, exilados saxões fugindo dos vikings.
Para os amantes de surf, Mundaca é mundialmente conhecida pela sua famosa onda, considerada uma das melhores ondas de esquerda do mundo. O comprimento da onda pode chegar a 400 metros, o que atrai surfistas de todos os cantos do planeta, especialmente no outono e no inverno.
Porto de Mundaca: um refúgio pitoresco na costa de Biscaia
Pequeno e acolhedor, o porto está situado na foz da ria de Mundaca, oferecendo um cenário encantador com seus barcos de pesca ancorados e as coloridas casas ao redor, que formam uma paisagem típica de uma vila pesqueira basca.
Caminhar ao longo do porto é uma experiência relaxante, onde é possível sentir o ritmo calmo da vida de pescador que ainda persiste na cidade. Embora pequeno, o porto já foi um importante ponto de comércio e pesca, e hoje mantém seu charme.
Além disso, o porto é um excelente ponto de partida para explorar o restante da cidade, sendo próximo ao centro histórico e às diversas atrações que Mundaca oferece, como a famosa onda de surf que atrai atletas de todo o mundo.
Explorando o Centro Histórico: charme e tradição
Suas ruas estreitas e de paralelepípedos estão cercadas por casas antigas e coloridas, muitas delas construídas com a típica arquitetura basca, refletindo o forte vínculo da cidade com o mar e sua longa história de pesca.
Caminhar pelo centro é como voltar no tempo, com edifícios históricos e igrejas que datam de séculos passados. Um dos destaques é a Cruz de Kurtzio, uma cruz do século XVII localizada na praça que leva o seu nome. Esta cruz é um símbolo do patrimônio religioso da cidade e adiciona um toque de história a esse charmoso espaço público. O centro também conta com pequenas praças encantadoras e bares locais onde é possível provar os famosos pintxos e desfrutar de um autêntico vinho txakoli, típico da região.
Igreja de Santa Maria: história e tradição na torre de vigia de Mundaca
A Igreja de Santa Maria, localizada na torre de vigia com vista para o mar, é um dos monumentos mais marcantes de Mundaca. Sua construção se inicia no estilo românico no século X, mas, após sua destruição, a igreja foi reconstruída com uma nova planta gótica no século XVI. O seu interior possui um valor artístico inegável, com uma nave e três corpos iguais, além de uma fachada neoclássica. A torre, de estilo neogótico, se adicionou no século XIX, complementando a impressionante arquitetura do local.
Uma curiosidade interessante é que, como podemos ver na foto, o muro da igreja se usa como um “frontón”, a tradicional quadra para jogar pelota basca, um dos esportes mais populares da região. Essa combinação entre arquitetura histórica e tradição esportiva dá à Igreja de Santa Maria um toque especial e único em Mundaca.
Ao lado da igreja, há também um mirante que oferece vistas espetaculares para o centro histórico e para a foz da Ría de Mundaca, tornando o local um ponto imperdível para quem visita a cidade.
Noite em Guernica
Distância: 12 km (de Mundaca a Guernica y Luno). Duração: 18 minutos.
Após finalizar nossa visita a Mundaca, seguimos para Guernica y Luno, onde nos hospedamos no Hotel Gernika. O hotel é aconchegante, muito próximo ao centro da cidade e, o que é uma grande vantagem, conta com estacionamento privado.
Depois de nos instalarmos, saímos para jantar em um dos restaurantes locais, na rua Pablo Picasso, onde aproveitamos para experimentar alguns dos pratos típicos da culinária basca. Experimentamos o bacalao al pil pil, o bacalao a la vizcaína e chipirones (lula grelhada), tudo acompanhado por um delicioso txacolí. Cada prato estava incrível, proporcionando um encerramento perfeito para o dia.
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