16º dia – Descobrindo Kobe: jardins, porto, sabores e arquitetura
Deixamos para trás a vibrante Osaka e seguimos de trem rumo a Kobe, utilizando o nosso JR Pass. A viagem foi rápida, durando pouco menos de 30 minutos. Ao chegarmos, desembarcamos na Estação Sannomiya (Hyogo) — vale destacar que essa não é a estação do Shinkansen em Kobe, mas sim uma estação muito mais central e conveniente para quem quer explorar a cidade a pé.
Assim que chegamos, seguimos caminhando até o Hotel Brenza, localizado nas proximidades da estação. Como ainda era cedo para o check-in, deixamos as malas na recepção e, sem perder tempo, já começamos a descobrir os encantos de Kobe.
Ao longo do dia, visitamos vários pontos de interesse que mostram a diversidade e o charme da cidade. Primeiramente exploramos o Nunobiki Herb Garden, um belo jardim nas encostas da montanha, com vistas panorâmicas incríveis. Em seguida, passeamos pelo bairro europeu de Kitanocho, com suas casas históricas e atmosfera elegante. Também exploramos Nankinmachi, o animado bairro chinês de Kobe, e, finalmente, seguimos até a região do porto, onde a cidade revela seu lado mais moderno e cosmopolita.
E, claro, não poderíamos deixar de provar o famoso Kobe beef. Assim, escolhemos um restaurante especializado e saboreamos um dos pratos mais emblemáticos do Japão — simplesmente inesquecível.
Kobe
Kobe fica na província de Hyogo, na região de Kansai, e integra uma das maiores concentrações urbanas do Japão. Atualmente, a cidade abriga um pouco mais de um milhão e meio de habitantes. Junto com Osaka e Quioto, forma uma megalópole com mais de 17 milhões de pessoas.
As autoridades concederam o estatuto oficial de cidade em 1889. Desde então, Kobe se consolidou como um importante centro econômico. O porto da cidade não só movimenta a economia japonesa, como também figura entre os maiores do mundo. Foi justamente desse porto que partiu o primeiro navio com imigrantes japoneses rumo ao Brasil, em 1908.
Ao longo do tempo, Kobe cresceu de forma elegante. A cidade combina modernidade urbana com a natureza ao redor, destacando-se especialmente pela presença do Monte Rokko, que forma um cenário natural incrível.
Além disso, a cidade carrega uma longa trajetória histórica. Em 1180, durante o final do período Heian, o Imperador Antoku transferiu temporariamente a corte imperial para Fukuhara, uma área que hoje pertence a Kobe. Embora essa mudança tenha durado apenas cinco meses, ela revela a importância estratégica da região desde os tempos antigos.
O dia em que a cidade parou: o terremoto de 1995
No entanto, Kobe também enfrentou momentos trágicos. Em 17 de janeiro de 1995, às 5h46 da manhã, um terremoto de magnitude 7,3 atingiu a região. Dessa forma, o Grande Terremoto de Hanshin-Awaji causou destruição em larga escala. Em apenas 20 segundos, o tremor matou 6.500 pessoas, feriu mais de 30.000 e desabrigou 300 mil moradores. O fogo destruiu quase 7 mil casas antigas de madeira, especialmente em bairros mais tradicionais. A cidade ficou arrasada por escombros e cinzas.
Mesmo diante de tamanha tragédia, os moradores de Kobe se uniram, reconstruíram a cidade e seguiram em frente. Atualmente, Kobe é um exemplo de resiliência e renascimento urbano, combinando um passado marcante com um presente moderno e vibrante.
Nunobiki Herb Garden e suas vistas incríveis
Horário: 09:00 – 16:45 horas. Aberto todos os dias.
Logo pela manhã, decidimos começar nosso passeio por Kobe com uma visita ao Nunobiki Herb Garden, um dos lugares mais bonitos e tranquilos da cidade. Já tínhamos comprado os ingressos online, através de Klook. Fomos de metrô até a base do Kobe Nunobiki Ropeway e, de lá, subimos de teleférico até a estação superior. A vista durante o trajeto já impressiona: à medida que o teleférico sobe, é possível ver do alto os próprio jardins , revelando uma paisagem exuberante com vista aérea da cidade.


Ao chegarmos no topo, logo ao lado da estação superior, encontramos o deck de observação. De lá, tivemos vistas espetaculares de Kobe. Além disso, há uma casa de repouso com café, restaurante e loja de souvenirs, onde é possível experimentar ou adquirir produtos feitos com ervas e aromáticos cultivados ali mesmo. Logo ao lado, está o “Rose Symphony Garden”, um jardim especialmente dedicado às rosas, onde é possível admirar diferentes espécies durante a floração enquanto ouvem música ambiente — uma experiência sensorial única.

Depois de curtir o mirante, começamos a descida a pé pelos caminhos do jardim, aproveitando para explorar com calma os diferentes espaços. O Nunobiki Herb Garden é considerado um dos maiores jardins de ervas do Japão, com centenas de espécies de plantas e flores sazonais espalhadas em um cenário montanhoso encantador. No caminho, encontramos também uma estufa, que permite o cultivo de flores e frutas tropicais durante o ano todo.



Kitano-cho: elegância histórica ao sopé da montanha
Depois de explorar o encantador Nunobiki Herb Garden e admirar as vistas panorâmicas de Kobe, descemos a encosta para conhecer o charmoso distrito de Kitano-cho, localizado ao sopé da cordilheira Rokko.
Esse bairro elegante ficou conhecido por ter sido o local onde diversos comerciantes e diplomatas estrangeiros se estabeleceram após a abertura do Porto de Kobe ao comércio exterior, na segunda metade do século XIX. Como resultado, surgiram as chamadas Ijinkan, mansões construídas no estilo ocidental que contrastam com a arquitetura tradicional japonesa.
Atualmente, mais de uma dúzia dessas residências históricas permanecem preservadas e estão abertas ao público como museus. Assim, caminhar por Kitano-cho é como fazer uma viagem ao passado cosmopolita de Kobe, com direito a cafés charmosos e pequenas lojas.

Ikuta Shrine: onde a história de Kobe começou
Após passear pelas ruas históricas de Kitano-cho, seguimos caminhando até o Ikuta Shrine, um dos santuários mais antigos e importantes de Kobe. Localizado em meio à área central da cidade, o Santuário surge como um refúgio de tranquilidade e espiritualidade, mesmo cercado por prédios modernos e avenidas movimentadas.
Fundado há mais de 1.800 anos, o Ikuta Jinja é dedicado à deusa Wakahirume-no-Mikoto, considerada protetora da saúde e da harmonia. Com seu grande torii vermelho, o santuário impressiona logo na entrada, mas também convida à introspecção com seus caminhos sombreados, lanternas de pedra e pequenos altares espalhados entre as árvores. Além disso, o local tem forte ligação com a história da cidade, especialmente por ter sobrevivido a diversos momentos difíceis, como o grande terremoto de Hanshin em 1995.

A hora mais esperada: Kobe Beef no almoço
E por fim, depois de tantas descobertas culturais e espirituais, chegou um dos momentos mais aguardados do dia: a hora do almoço, dedicada a experimentar o famoso Kobe Beef. Estávamos animados para provar essa iguaria tão prestigiada, e por isso escolhemos um restaurante especializado.
Logo no início, foi servida uma salada japonesa colorida e bem apresentada, composta por folhas verdes frescas, tomate-cereja, rabanete roxo, batata com maionese japonesa, brotos crocantes e harusame (os fios de macarrão de vidro transparentes). Leve e equilibrada, ela preparou perfeitamente nosso paladar para o prato principal. Em seguida, chegou a estrela da refeição: o Kobe Beef, com um corte perfeitamente selado, suave por dentro e incrivelmente macio.
O prato vinha acompanhado de batata-doce grelhada, vegetais sazonais, cogumelo maitake salteado e um delicado ramo decorativo. Para realçar os sabores, recebemos também wasabi fresco, um molho espesso à base de miso levemente adocicado e sal com molho de soja à parte, permitindo diferentes combinações com a carne.


Kobe Beef
É importante destacar que o Kobe Beef é apenas uma das diversas raças de Wagyu, ou seja, de gado japonês, que são criadas em diferentes regiões do país e geralmente associadas à sua área de origem. Embora o Kobe Beef seja, sem dúvida, o tipo de Wagyu mais conhecido internacionalmente, dentro do Japão outras variedades como o Matsusaka e o Yonezawa Beef também são altamente renomadas. O Kobe Beef se distingue por sua textura extremamente tenra, sabor marcante e alto nível de marmoreio, que confere à carne uma suculência incomparável.
Ele é produzido a partir de gado da raça Tajima, com pedigree rigorosamente controlado, que deve nascer, ser criado e abatido exclusivamente na província de Hyogo. Ao contrário de algumas lendas populares, essas vacas não são alimentadas com cerveja nem massageadas com saquê. Na verdade, depois de abatida, a carne passa por um sistema rigoroso de classificação, e somente os cortes com qualidade excepcional e altíssimo grau de marmoreio recebem o selo oficial de Kobe Beef, que é uma marca registrada e legalmente protegida.
Nankinmachi: tradições chinesas no coração de Kobe
Depois de explorar os sabores do famoso Kobe Beef, seguimos para Nankinmachi, a charmosa e compacta Chinatown de Kobe. Essa área é o principal ponto de encontro da comunidade chinesa da região de Kansai, além de ser um destino turístico popular.
A origem de Nankinmachi remonta ao ano de 1868, quando o porto de Kobe foi aberto ao comércio exterior e diversos comerciantes chineses se estabeleceram nas redondezas. Com o tempo, o bairro cresceu e passou a ser conhecido como “Nankinmachi”, uma homenagem à cidade de Nanjing, antiga capital da China. Atualmente, duas ruas principais cortam o distrito e se encontram em uma praça central decorada com lanternas e arquitetura típica, criando um ambiente pitoresco e acolhedor.

Meriken Park: arte, memória e horizonte à beira-mar
Seguimos para um dos lugares mais agradáveis e simbólicos de Kobe: o Meriken Park, um belo parque que se encontra na área portuária da cidade. Construído sobre um afloramento de terra recuperada, o parque é um espaço amplo, coberto por gramados, pátios abertos, fontes e instalações de arte moderna.


Além do ambiente acolhedor, o Parque abriga algumas das construções contemporâneas mais icônicas de Kobe, como a elegante e futurista Torre Vermelha do Porto de Kobe e o Museu Marítimo de Kobe, com sua estrutura branca em forma de vela. Também encontramos ali o famoso letreiro “Be Kobe”, onde visitantes fazem fila para tirar fotos com o porto e o mar ao fundo.
No entanto, Meriken Park também carrega uma dimensão histórica e emocional muito forte. Durante o Grande Terremoto de Hanshin em 1995, o parque foi severamente devastado. Hoje, um memorial discreto homenageia as muitas vítimas que perderam a vida no porto. Além disso, uma pequena seção da área portuária foi deliberadamente deixada sem reparos, como lembrança visível do poder destrutivo daquele evento.


Ademais, outro ponto que nos chamou a atenção foi o Monumento à Emigração Japonesa, em reconhecimento aos milhões de japoneses que, ao longo dos séculos, deixaram o Japão em busca de novas oportunidades ao redor do mundo. A escultura é um tributo sensível e simbólico à coragem desses emigrantes e à conexão duradoura entre o Japão e suas comunidades no exterior — incluindo, claro, o Brasil. De fato, as inscrições no monumentos estão em japonês, espanhol e português.



Final de tarde no Kobe Harborland: compras, vistas e diversão à beira-mar
Agora seguimos para um dos lugares mais animados e agradáveis de Kobe: o Kobe Harborland. Esse bairro reúne comércio, entretenimento, gastronomia e belas paisagens, tudo em um só lugar. Logo que chegamos, percebemos por que esse é um dos pontos mais frequentados por turistas e casais locais. De fato, o ambiente é moderno, espaçoso e muito agradável para caminhar, especialmente no final da tarde.
No coração do bairro, visitamos o Umie, o complexo comercial mais importante de Kobe Harborland. Ele é dividido em três áreas principais: Mosaic, South Mall e North Mall. Cada uma tem seu charme, mas o Mosaic foi o nosso favorito. O Mosaic se estende ao longo da orla marítima e oferece uma grande variedade de restaurantes com vista para o porto. Do outro lado da água, pudemos ver a Torre do Porto de Kobe e o Museu Marítimo de Kobe.
No extremo sul do Mosaic, encontramos dois lugares que chamaram nossa atenção: a roda gigante e o curioso Museu Anpanman, dedicado ao famoso personagem de mangá e anime com cabeça de pão.



Depois da visita, começamos a caminhar de volta ao Hotel Brenza, onde estávamos hospedados, para descansar e nos preparar para o dia seguinte. No entanto, antes de chegarmos, tivemos uma surpresa inusitada: encontramos a estátua de Elvis Presley, em plena área portuária de Kobe.

Nosso roteiro no Japão
Descubra mais sobre nossa viagem pelo Japão clicando nos links abaixo:
- Japão I – Tóquio: Shinjuku e Shibuya
- Japão II – Tóquio: Chiyoda, Ueno, Akihabara e Roppongi
- Japão III – Tóquio: Sumida, Asakusa e Odaiba
- Japão IV – Tóquio: Shiba, Chuo e Ginza
- Japão V – Monte Fuji
- Japão VI – Takayama: Old Town
- Japão VII – Takayama: Higashiyama Walking Course e Hida Folk Village
- Japão VIII – Kanazawa: Kenrokuen Garden e Kanazawa Castle
- Japão IX – Kanazawa: Nagamachi Samurai District, Nishi Chaya District e Higashi Chaya District
- Japão X – Kyoto: Palácios Imperiais, Castelo Nijo, Pavilhão Dourado, Templo Toji e Torre de Kyoto
- Japão XI – Kyoto: Fushimi Inari, Higashiyama e Gion
- Japão XII – Kyoto: Arashiyama e Estação de Kyoto
- Japão XIII – Nara
- Japão XIV – Osaka: Shinsekai, Tenma e Nakazakicho
- Japão XV – Osaka: Osakajo, Minami, Tennoji, Abeno e Nakanoshima
- Japão XVII – Hiroshima
- Japão XVIII – Miyajima