Gâmbia I – Wassu

1º dia – Atravessando a fronteira entre Senegal e Gâmbia e explorando Wassu

Depois de passar a noite em Kaolack, no Senegal, seguimos em direção à fronteira terrestre com a Gâmbia. Ao chegarmos, realizamos os procedimentos de imigração, que exigiram um pouco de paciência, pois Cristina, com passaporte brasileiro, precisou tirar o visto na hora (eu, com passaporte espanhol, não precisei de visto).

Felizmente, graças ao nosso guia Mika, todo o processo foi tranquilo, mas foi necessário entrar nos escritórios da polícia de fronteira gambiana para pagar e emitir o documento para Cristina.

Com os trâmites resolvidos, cruzamos a fronteira e continuamos nossa jornada rumo a Wassu, prontos para explorar mais um fascinante destino na África Ocidental.

Durante nossa viagem pela Gâmbia, percebemos uma diferença marcante em relação ao Senegal: éramos parados em praticamente todos os controles da Polícia Rodoviária. Em cada parada, o motorista precisava apresentar uma série de documentos, como os do carro, a habilitação, a permissão para dirigir no país, entre outros. Além disso, era necessário entregar uma quantia em dinheiro. Nosso guia explicou que, infelizmente, essa prática é bastante comum na Gâmbia e faz parte do dia a dia no país.

Wassu

Distância (de Kaolack – Senegal): 230 km. Duração: 4 horas e 30 minutos.

Wassu é uma pequena vila localizada na região da Divisão Central do Rio, na parte oriental da Gâmbia, aproximadamente 190 km a leste de Banjul, a capital do país. Apesar de sua modesta população de cerca de 1.380 habitantes, Wassu é um destino que combina história e beleza natural, atraindo visitantes curiosos em conhecer mais sobre a rica cultura e paisagem da Gâmbia.

A área ao redor de Wassu é predominantemente rural, com vastos campos que refletem a simplicidade e o estilo de vida agrícola da região. O Rio Gâmbia, que atravessa o país de leste a oeste, influencia diretamente a geografia local, criando um ecossistema rico e uma paisagem pontilhada por inúmeras ilhas. Essas ilhas não são apenas um elemento geográfico marcante, mas também abrigam uma fauna diversificada e comunidades que dependem do rio para sua subsistência.

Ao chegarmos em Wassu, nos dirigimos diretamente ao Reliable Guest House, um tipo de acomodação que foge dos tradicionais hotéis. Como o próprio nome sugere, trata-se de casas que lembram pequenas cavernas, já que não possuem janelas em seus interiores. Apesar disso, o ambiente interno era confortável, oferecendo uma estadia tranquila. O proprietário do alojamento era uma figura bastante carismática e comunicativa, com uma impressionante habilidade de falar diversas línguas, incluindo o espanhol, o que facilitou muito nossa interação.

Após nos acomodarmos e deixarmos nossa bagagem, partimos para explorar o principal ponto turístico da região: os Círculos de Pedra de Wassu.

Os fascinantes Círculos de Pedra de Wassu: Patrimônio Mundial da Humanidade

Os Círculos de Pedra da Senegâmbia, também conhecidos como Círculos de Pedra de Wassu, são um conjunto de círculos megalíticos localizados na Gâmbia e no Senegal. Divididos geograficamente entre Wassu (Gâmbia) e Sine-Saloum (Senegal), essa distinção é puramente administrativa, já que os círculos pertencem a uma mesma paisagem histórica e cultural. Com mais de 1.000 círculos de pedra e túmulos espalhados por uma área de 350 km de comprimento e 100 km de largura, essa é a maior concentração de círculos de pedra do mundo, uma paisagem sagrada usada por mais de 1.500 anos. Por sua importância histórica, foram inscritos na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 2006.

Os monumentos estão agrupados em quatro grandes locais: Sine Ngayene e Wanar no Senegal, e Wassu e Kerbatch na Gâmbia. No total, incluem cerca de 29.000 pedras, 17.000 monumentos e 2.000 sítios individuais, uma verdadeira riqueza arqueológica. Esses monumentos consistem principalmente de blocos ou pilares verticais de laterita, com superfícies lisas. Os monólitos estão dispostos em círculos, círculos duplos, formações individuais ou fileiras chamadas de “pedras frontais”. Em algumas áreas, essas pedras frontais formam padrões chamados de “pedras-lira” devido à sua disposição paralela.

Os pesquisadores ainda não têm uma datação exata para a construção desses monumentos. Estima-se que tenham sido construídos entre o século III a.C. e o século XVI d.C.. Túmulos próximos ao complexo de Wassu foram datados entre 927 e 1305 d.C., mas ainda não se sabe se esses túmulos precedem ou sucedem os círculos de pedra. Escavações revelaram fragmentos de cerâmica, sepulturas humanas, bens funerários e objetos de metal, alguns dos quais podem ser vistos em coleções como a do Museu Britânico.

A construção desses monumentos exige um profundo conhecimento da geologia local e grande habilidade técnica. As pedras de laterita foram extraídas com ferramentas de ferro, e cada pilar cilíndrico ou poligonal, com até dois metros de altura e peso médio de sete toneladas, foi cuidadosamente trabalhado e transportado. Os responsáveis por essas impressionantes construções ainda são desconhecidos. Teorias apontam para os ancestrais dos povos Jola, Wolof ou Serer, sendo que os últimos ainda mantêm tradições funerárias semelhantes às observadas nos sítios de Wanar.

Wassu é uma das áreas mais bem preservadas desse complexo megalítico. É composto por 11 círculos de pedra e pedras frontais associadas. A pedra mais alta de todo o conjunto está em Wassu, medindo impressionantes 2,59 metros de altura.

As escavações realizadas em Wassu, como a campanha anglo-gambiana liderada por Evans e Ozanne nos anos 1960, revelaram túmulos que possibilitaram a datação e trouxeram novas luzes sobre o uso e a importância dos círculos de pedra na vida das comunidades locais.

Na chegada ao sitio arqueológico, que também é conhecido como o Stonehenge da África Ocidental, é necessário o acompanhamento de um guia oficial do próprio sítio arqueológico. Essa prática garante que os visitantes compreendam a importância histórica e cultural desse Patrimônio Mundial da UNESCO.

O guia local que nos acompanhou se mostrou extremamente informativo e profissional, explicando em detalhes a história, as teorias sobre a construção e o significado dos círculos. Um dado curioso que ele nos apontou é que o desenho desses monumentos está presente na nota de 50 dalasis, a moeda local da Gâmbia, destacando a importância simbólica e histórica desses círculos para o país.

Ilha Baboon: vida selvagem e natureza em seu esplendor

Após o almoço na hospedaria, embarcamos em uma lancha para explorar a famosa Ilha Baboon. Junto com o proprietário da hospedagem e uma família de turistas norte-americanos, navegamos rumo ao arquipélago que é composto por uma grande ilha e quatro menores, localizadas no rio Gâmbia.

A Ilha Baboon é um santuário único, fundado em 1960 por uma britânica com o objetivo de reabilitar chimpanzés. O local proporciona aos visitantes a oportunidade de experimentar a vida selvagem protegida em uma floresta nacional. Do barco, é possível observar chimpanzés em seu habitat natural (embora o avistamento nem sempre seja garantido). Além disso, a fauna local inclui hipopótamos, crocodilos, macacos-ververts, macacos colobus vermelhos ocidentais, hienas e javalis.

Na nossa visita, tivemos a sorte de avistar chimpanzés e hipopótamos bem de perto, o que tornou a experiência ainda mais fascinante. A emoção de ver essas criaturas majestosas no ambiente selvagem foi, sem dúvida, um dos pontos altos da viagem.

Após a visita à Ilha Baboon, retornamos à hospedaria para um merecido descanso. Lá, desfrutamos de um jantar agradável e recarregamos as energias para o dia seguinte, após uma intensa jornada de viagem.

Acompanhe o restante de nossa aventura na Gâmbia nos links abaixo!

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