Japão VIII – Kanazawa: Kenrokuen Garden e Kanazawa Castle

8º dia – Chegando em Kanazawa, explorando os jardins e monumentos da cidade

Após mais um café da manhã excepcional no Honjin Hiranoya Kachoan, nos dirigimos até a estação de ônibus para seguir viagem rumo a Kanazawa. Optamos pelo Nohi Bus, uma escolha estratégica que nos proporcionou uma viagem mais direta e confortável. Embora tivéssemos o Japan Rail Pass, percebemos que as conexões de trem até Kanazawa não eram tão eficientes. Por isso, escolhemos o ônibus, que nos levaria direto ao destino sem necessidade de trocas de transporte. Além disso, garantimos os tickets com antecedência online, garantindo tranquilidade para essa parte do trajeto.

Durante a viagem, fizemos uma breve parada em Shirakawa, onde pudemos admirar a paisagem repleta de casas tradicionais gassho-zukuri, um cenário que reforça o charme histórico da região. Após cerca de 2 horas e 15 minutos na estrada, finalmente chegamos a Kanazawa, prontos para explorar mais um destino fascinante no Japão.

Casas tradicionais gassho-zukuri,em Shirakawa, Japão.

Assim que desembarcamos, seguimos diretamente para o Hotel Torifito Kanazawa, que se revelou uma excelente escolha. Depois de deixar nossas malas no hotel, não perdemos tempo e já partimos para conhecer a cidade. Para facilitar nossos deslocamentos, decidimos utilizar o sistema de ônibus local JR, que também podia ser acessado com o Japan Rail Pass. Com isso, conseguimos visitar os principais pontos turísticos de Kanazawa de forma prática e eficiente, aproveitando ao máximo o nosso primeiro dia na cidade.

Kanazawa

Kanazawa, a capital da Prefeitura de Ishikawa, se destaca como uma cidade rica em história e cultura, com aproximadamente 500 mil habitantes. O nome “Kanazawa”, que significa literalmente “pântano de ouro”, tem origem na lenda de Imohori Togoro, um camponês que, ao cavar a terra em busca de batatas, teria encontrado flocos de ouro.

Diferentemente de muitas outras cidades-castelo do Japão, onde a fortaleza se posicionava apenas em um dos lados da cidade, o centro histórico de Kanazawa cresceu ao redor do castelo. Suas origens remontam ao século XV, quando a área era dominada pelo Ikkō-ikki, uma seita budista que derrubou os antigos governantes locais, o clã Togashi, estabelecendo o chamado “Reino dos Camponeses”.

A importância de Kanazawa durante o Período Edo

Com a chegada do Período Edo, Kanazawa tornou-se a sede do poderoso Clã Maeda, o segundo mais influente do Japão depois dos Tokugawa, tanto em produção de arroz quanto em extensão territorial. Assim, graças a isso, a cidade prosperou e se tornou um dos maiores polos culturais do Japão, rivalizando com Kyoto e Edo (atual Tóquio).

Durante a Segunda Guerra Mundial, Kanazawa teve a sorte de escapar dos ataques aéreos, tornando-se a segunda maior cidade do Japão a não sofrer destruição, atrás apenas de Kyoto. Como consequência, partes significativas da cidade antiga foram preservadas, incluindo o distrito samurai de Nagamachi e os distritos chaya de entretenimento, onde as gueixas ainda se apresentam.

A arquitetura tradicional de Kanazawa reflete seu passado feudal. Como as casas eram taxadas pela largura da fachada, isto levou ao desenvolvimento de construções longas e estreitas. Diferente das residências samurais, as casas dos comerciantes possuíam dois andares, sendo o superior utilizado principalmente para armazenamento.

Além disso, o clima rigoroso influenciou o design das casas. Os telhados inclinavam-se em direção a um jardim central, onde a neve se acumulava no inverno, proporcionando iluminação natural através do reflexo da luz. Assim, as tradicionais telhas pretas brilhantes ao sol formam uma das imagens mais icônicas de Kanazawa.

O legado dos Samurais e das Gueixas

No final do século XVII, Kanazawa já estava completamente estabelecida, com três quartos da cidade ocupados por casas de samurais. Já as propriedades dos vassalos mais importantes do Clã Maeda, conhecidas como Oito Casas, ficavam próximas ao castelo, cercadas por vastas áreas residenciais destinadas aos seus criados e guerreiros. Além da aristocracia samurai, Kanazawa também foi um importante centro de entretenimento e cultura mercantil. Assim, em 1820, surgiu um distrito exclusivo para gueixas e casas de chá.

Kenrokuen: o jardim das seis sublimidades

Horário: 08:00 – 17:00 horas. Aberto todos os dias.

Kenrokuen é, sem dúvida, um dos três jardins paisagísticos mais belos do Japão, ao lado do Kairakuen, em Mito, e do Korakuen, em Okayama. Originalmente, seus amplos terrenos faziam parte do jardim externo do Castelo de Kanazawa e foram cuidadosamente projetados pela poderosa família Maeda, que governava a região. Durante quase dois séculos, esse jardim foi aprimorado até se tornar a obra-prima que conhecemos hoje. Finalmente, em 1871, Kenrokuen foi aberto ao público, permitindo que todos apreciassem sua impressionante beleza e harmonia.

O nome Kenrokuen significa “Jardim das Seis Sublimidades”, um conceito baseado na teoria da paisagem chinesa, que estabelece seis atributos essenciais para um jardim perfeito: amplitude, reclusão, artificialidade, antiguidade, água abundante e vistas amplas. Ao caminhar por suas trilhas, é possível compreender como esses elementos se combinam de forma harmoniosa, criando um ambiente verdadeiramente cativante. Por toda parte, encontramos fontes, pontes, casas de chá, árvores floridas, pedras ornamentais, mirantes e recantos escondidos, cada um contribuindo para o charme do jardim.

Além disso, a água desempenha um papel fundamental em Kenrokuen. Assim, desde 1632, um sofisticado sistema de irrigação desvia água de um rio distante para alimentar os diversos riachos e lagoas que atravessam o jardim. Entre elas, destacam-se as duas lagoas principais: Kasumigaike e Hisagoike. Ademais, na margem norte do Lago Kasumigaike, encontra-se a icônica Lanterna Kotojitoro, com mais de dois metros de altura e um design único de duas pernas ao invés de uma. Outro destaque é a fonte abaixo dessa mesma lagoa, considerada uma das mais antigas do Japão. Graças a uma diferença de elevação natural, a água jorra a 3,5 metros de altura, criando um efeito visual impressionante. Enquanto isso, a vizinha Hisagoike Pond encanta os visitantes com sua pequena e serena cachoeira.

Kanazawa Castle: o poderoso símbolo do clã Maeda

Horário: 08:00 – 17:00 horas. Aberto todos os dias.

Durante quase três séculos, de 1583 até o final do Período Edo, o Castelo de Kanazawa serviu como a sede do Clã Maeda, senhores do Domínio de Kaga. Na época, esse feudo era o segundo mais rico e poderoso do Japão, ficando atrás apenas das vastas posses dos Tokugawa. Por isso, o castelo desempenhava um papel estratégico, não apenas como fortaleza militar, mas também como um centro administrativo e símbolo de prestígio.

Ao longo dos séculos, incêndios destruíram grande parte do castelo, e o mais devastador deles ocorreu em 1881, deixando de pé apenas dois armazéns e o Portão Ishikawa-mon. Dessa forma, esse portão icônico, datado de 1788, sobreviveu ao tempo e hoje se conecta diretamente ao Kenrokuen, permitindo um acesso privilegiado ao famoso jardim.

Por várias décadas, a Universidade de Kanazawa ocupou os terrenos do castelo, até que nos anos 1990, o campus se transferiu para os arredores da cidade. Desde então, um grande projeto de reconstrução tem restaurado as estruturas históricas do castelo, utilizando técnicas e materiais tradicionais para recriar sua aparência original.

Nesse sentido, os primeiros edifícios restaurados incluem as torres de vigia Hishi Yagura e Tsuzuki Yagura, além do extenso armazém Gojukken Nagaya, que liga as torres. A reconstrução também devolveu à cidade vários dos portões históricos: o Portão Hashizume-mon, o Portão Kahoku-mon, que servia como a entrada principal do castelo, e o Portão Nezumita-mon, próximo ao Santuário de Oyama.

Decidimos visitar o interior do castelo, pagando a pequena taxa de entrada. Sem dúvida, a experiência valeu a pena. Ao caminhar pelos corredores e salas, conseguimos apreciar a riqueza dos detalhes arquitetônicos, além de conhecer melhor as técnicas de carpintaria tradicional utilizadas na reconstrução.

Santuário Oyama: história, arquitetura e cultura em Kanazawa

Horário: Aberto sempre.

Ao visitar Kanazawa, não poderíamos deixar de conhecer o Santuário Oyama, um local que carrega história, cultura e elementos arquitetônicos únicos. Dedicado a Maeda Toshiie, o primeiro senhor do poderoso Clã Maeda, esse santuário remete ao passado glorioso da cidade. Inicialmente, Maeda Toshinaga, sucessor de Toshiie, mandou construir o santuário em 1599, no Monte Utatsu. No entanto, a estrutura foi posteriormente transferida para sua localização atual, tornando-se um dos templos mais importantes de Kanazawa.

Ao nos aproximarmos da entrada, percebemos imediatamente a peculiaridade do portão principal. Diferente dos tradicionais portões de santuários xintoístas, este apresenta uma fusão única de influências japonesas, chinesas e ocidentais. De fato, um arquiteto holandês projetou essa obra-prima, incorporando detalhes que mesclam elementos religiosos asiáticos e europeus.

Curiosamente, esse portão não foi originalmente concebido para o santuário, mas sim para guardar a entrada do palácio do Castelo de Kanazawa. Somente mais tarde, ele foi realocado para o Santuário Oyama, onde hoje se tornou um símbolo arquitetônico incomum na cidade.

Igualmente, encontramos um agradável jardim de passeio, que nos convida a explorar seus lagos serenos e pontes harmoniosas. De fato, as pontes exibem um design especial, que fazem lembrar harpas e alaúdes, instrumentos musicais que evocam uma atmosfera de tranquilidade.

No centro do santuário, destaca-se a estátua de Lord Toshiie, uma homenagem imponente ao líder que consolidou o domínio do Clã Maeda.

Uma surpresa nada agradável no jantar em Kanazawa

Após um dia intenso de explorações em Kanazawa, decidimos voltar ao Hotel Torifito Kanazawa para descansar. No entanto, antes de dormir, resolvemos sair para procurar um restaurante nas proximidades do hotel. Como queríamos algo rápido e típico, caminhamos pelas e achamos um lugar interessante. Sem hesitar, entramos e pedimos algumas comidas tradicionais, mas em pequenas porções, além de uma cerveja para relaxar.

Restaurante em Kanazawa

Até aquele momento, tudo parecia perfeito. De fato, o ambiente estava agradável, a comida parecia boa, e estávamos prontos para encerrar o dia de forma tranquila. No entanto, quando a conta chegou, fomos surpreendidos por um valor inesperadamente alto. Imediatamente, percebi que o total era praticamente o dobro do que eu havia calculado. Sem entender o motivo, chamei a atendente para esclarecer a situação.

Ao perguntar pelo valor, a atendente explicou que havia uma taxa extra associada ao consumo de álcool. Mesmo assim, achei estranho, pois não tínhamos sido informados de nada previamente. Para tentar justificar, ela trouxe um papel escrito inteiramente em japonês, afirmando que a política do restaurante sobre essa cobrança estava ali descrita.

Assim, nos sentimos completamente enganados, mas apesar da frustração, preferimos não discutir mais, pagamos a conta e saímos do restaurante.

Definitivamente, não esperávamos passar por isso em um país como o Japão, conhecido por sua transparência e honestidade. Assim, após essa experiência desagradável, voltamos ao hotel, tentando deixar a frustração de lado e descansar para enfrentar mais um dia de descobertas em Kanazawa.

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