13º dia – Explorando Nara, o berço da tradição japonesa e seus encantos históricos
Ainda hospedados em Kyoto, decidimos aproveitar para fazer uma viagem de ida e volta até Nara, utilizando nosso prático JR Pass. Em pouco tempo de viagem de trem, já estávamos prontos para explorar essa cidade histórica, repleta de templos impressionantes e paisagens encantadoras.
Assim que chegamos, seguimos diretamente para os principais pontos turísticos, garantindo que aproveitássemos ao máximo nossa visita. Entre os destaques, sem dúvida, estava o famoso Parque de Nara, um dos símbolos da cidade. Esse local não apenas abriga templos grandiosos, mas também é conhecido pelos seus inúmeros cervos simpáticos, que circulam livremente e interagem com os visitantes.
Nara
Localizada na Região de Kansai, Nara abriga uma população estimada de 370 mil habitantes. Embora hoje seja conhecida por seus templos históricos e pela presença dos famosos cervos no Parque de Nara, sua importância remonta a séculos atrás.
Durante o século VIII, Nara foi a primeira capital fixa do Japão, conhecida como Heijō-kyō. Fundada em 710, sob o reinado da Imperatriz Gemmei, permaneceu como centro político do país até 784. Esse período histórico ficou conhecido como o Período Nara e marcou uma transformação fundamental na organização do governo japonês. Antes dessa época, transferiam as capitais de um reino para outro, seguindo antigas crenças xintoístas. Como se considerava à morte a maior impureza, sempre que um soberano falecia, acreditava-se que a capital precisava ser abandonada e reconstruída em outro local.
No entanto, no início do século VIII, tornou-se evidente a necessidade de um centro administrativo fixo e duradouro. Inspirando-se no modelo da capital chinesa Xi’an, o plano original da cidade de Nara previa uma estrutura organizada, com aproximadamente 2 km de largura por 4,3 km de comprimento. Uma avenida imponente atravessava a cidade e conduzia diretamente ao Palácio Imperial, enquanto ruas retas e simétricas dividiam a cidade em setores bem planejados.
Após o fim do Período Nara, renomearam a cidade como Nanto (“Capital do Sul”) e perdeu sua relevância política. Além disso, ao longo dos séculos, Nara sofreu destruições significativas, especialmente durante as Guerras Genpei, quando foi incendiada pelo Clã Taira no ano de 1180, durante o Cerco de Nara. Mesmo após perder seu status de capital, Nara permaneceu como um importante centro cultural e religioso, preservando sua história e legado até os dias de hoje.
Sanjohommachi: o coração vibrante de Nara
Assim que chegamos, percebemos que Sanjohommachi oferece uma combinação fascinante entre o passado e o presente. Localizada estrategicamente nas proximidades da Estação de Nara, essa região funciona como um ponto de chegada para muitos visitantes que exploram a antiga capital do Japão.

Ao longo das ruas de Sanjohommachi, encontramos uma grande variedade de lojas especializadas em produtos típicos da região, como doces wagashi, souvenires artesanais e até mesmo artigos relacionados ao famoso Parque de Nara e seus simpáticos cervos. Além do comércio, o bairro também é um excelente lugar para experimentar a culinária local, de fato, a gente almoçou aqui.
Kofukuji: o templo do Clã Fujiwara em Nara
Horário: 09:00 – 16:45 horas. Aberto todos os dias.
Fundado em 710, no mesmo momento em que Nara se tornou a capital do Japão, Kofukuji chegou a contar com mais de 150 edifícios no auge do poder da família Fujiwara. Atualmente, algumas das construções mais notáveis ainda se mantêm de pé, preservando a grandiosidade do passado.
Entre as estruturas mais impressionantes do templo, destacam-se dois magníficos pagodes: um de cinco andares e outro de três andares. Com 50 metros de altura, o pagode de cinco andares é o segundo mais alto do Japão, ficando apenas sete metros abaixo do famoso pagode do Templo Toji, em Kyoto. Além disso, essa imponente construção se tornou um verdadeiro símbolo da cidade de Nara. Originalmente construído em 730, reconstruíram ele pela última vez em 1426. Vale ressaltar que, apesar de sua imponência, os pagodes não podem ser acessados internamente.


Áreas do templo com entrada gratuita e paga
Diferente de outros templos da cidade, Kofukuji permite acesso gratuito ao seu terreno, que pode ser visitado 24 horas por dia. No entanto, algumas áreas exigem o pagamento de uma taxa para entrada, incluindo o Salão Dourado Central, o Salão Dourado Oriental e o Museu do Tesouro Nacional de Kofukuji.
O Salão Dourado Central, edifício principal do templo, foi destruído por um incêndio há aproximadamente 300 anos. Sua reconstrução no tamanho original demorou muitos anos, mas finalmente foi concluída recentemente. Já o Salão Dourado Oriental abriga uma impressionante estátua do Buda Yakushi, uma das mais importantes representações dessa divindade.
Outro destaque do templo é o Museu do Tesouro Nacional de Kofukuji, um espaço que se dedica à preservação e exibição da vasta coleção de arte budista do templo. Entre suas peças mais icônicas, destaca-se a impressionante Estátua Ashura, com suas três faces e seis braços, uma das mais famosas esculturas budistas de todo o Japão.
Além disso, o complexo do templo abriga dois edifícios fascinantes: os Salões Octogonais Norte e Sul. Com origens que remontam a mais de mil anos, esses salões foram reconstruídos em 1210 e 1789, respectivamente. No entanto, eles não costumam ser abertos ao público.
Apesar do grande valor histórico e artístico das áreas pagas do templo, preferimos não entrar no interior dos edifícios, aproveitando nossa visita para explorar a parte externa do complexo e admirar suas imponentes construções.
Parque Nara: natureza, história e os simpáticos cervos
Durante nossa visita a Nara, um dos locais que mais nos encantou foi o Parque Nara (Nara Kōen). Localizado no coração da cidade, este vasto parque foi estabelecido em 1880 e abriga algumas das atrações mais icônicas de Nara, como os majestosos templos Todaiji, Kasuga Taisha, Kofukuji e o renomado Museu Nacional de Nara. Além disso, a atmosfera do parque combina perfeitamente história, natureza e cultura, criando um ambiente fascinante para explorar.

Entretanto, o que realmente torna o Parque Nara único são seus famosos habitantes: os cervos sika, que vagam livremente por toda a área. Com mais de mil cervos, esses animais não são apenas um grande atrativo turístico, mas também carregam um profundo significado cultural. Segundo as crenças locais, os cervos de Nara são mensageiros dos deuses, o que fez com que fossem oficialmente designados como tesouro natural.


Em quase todos os cantos do parque, encontramos vendedores oferecendo os tradicionais biscoitos (shika senbei), que os visitantes podem comprar para alimentar os cervos. Curiosamente, muitos desses animais aprenderam a se curvar respeitosamente antes de receber a comida, tornando a interação ainda mais divertida e única. Apesar de serem dóceis na maior parte do tempo, os cervos podem ficar mais insistentes – e até um pouco agressivos – se perceberem que alguém tem comida.
Shin-Yakushiji: um templo dedicado ao Buda da medicina em Nara
Horário: 09:00 – 17:00 horas. Aberto todos os dias.
Durante nossa jornada por Nara, decidimos visitar o histórico Templo Shin-Yakushiji, um local que remonta ao Período Nara (710-794). Fundado por uma imperatriz, este templo surgiu com o propósito de buscar bênçãos para a saúde do imperador doente. Como seu nome indica, Shin-Yakushiji significa “Novo Templo Yakushi”, pois já existia outro templo dedicado ao mesmo Buda.
O templo é especialmente significativo porque presta homenagem a Yakushi Nyorai, o Buda da Medicina, uma figura central no budismo japonês. No passado, Shin-Yakushiji era um complexo impressionante, com diversos edifícios, mas, ao longo dos séculos, apenas o salão principal (Hondo) sobreviveu.

Uma pausa merecida: almoço com okonomiyaki em Nara
Depois de explorar tantos pontos fascinantes em Nara, finalmente chegou o momento de fazer uma pausa e aproveitar um almoço especial. Entre tantas opções saborosas, decidimos experimentar um prato tradicional japonês que é simplesmente irresistível: o okonomiyaki. Este prato é uma espécie de panqueca salgada japonesa, preparada com uma massa à base de farinha, ovos, repolho e um caldo saboroso.

Sarusawaike Pond: um espelho d’água cercado por história em Nara
Após o almoço, nos deparamos com um verdadeiro refúgio de paz: o Sarusawaike Pond. Este pequeno lago, localizado no centro da cidade, oferece um cenário encantador e uma pausa bem-vinda entre os templos e monumentos históricos. Cercado por salgueiros elegantes e refletindo o céu e os pagodes ao redor, o lago proporciona uma vista espetacular.
Construído no Período Nara (710-794), o Sarusawaike Pond carrega uma forte conexão histórica. Ele fazia parte do Templo Kofukuji, um dos mais importantes da cidade, e ao longo dos séculos tornou-se um dos cartões-postais de Nara.

Encerrando o dia em Naramachi: o antigo distrito comercial de Nara
Para finalizar nosso dia em Nara, decidimos passear por Naramachi (“Cidade de Nara”), o antigo distrito comercial da cidade. Ao longo das ruas estreitas, encontramos um ambiente autêntico, repleto de edifícios residenciais tradicionais, antigos armazéns e diversas lojas charmosas.
Além das construções preservadas, boutiques, cafés, restaurantes e pequenos museus trazem vida ao bairro. Durante nossa caminhada, observamos que várias das edificações seguiam o estilo das machiya, típicas casas geminadas do Período Edo e anteriores. Essas construções, além de servirem como residências, também funcionavam como lojas de comerciantes locais. Os moradores da época construíam fachadas estreitas para pagar menos impostos, já que o governo calculava a tributação com base na largura da entrada para a rua e não pelo tamanho total da propriedade.
Passagem pelo Templo Gangoji
Horário: 09:00 – 16:30 horas. Aberto todos os dias.
Enquanto explorávamos Naramachi, passamos pelo histórico Templo Gangoji, mas optamos por não entrar. Antes de Naramachi se tornar um distrito comercial, o vasto terreno do templo dominava essa área. No passado, Gangoji figurava entre os templos mais importantes do Japão, especialmente durante o Período Nara. Assim, seu valor histórico garantiu seu reconhecimento como Patrimônio Mundial da UNESCO.
O templo, originalmente chamado Asukadera, teve sua construção em Asuka, mas em 718, as autoridades o transferiram para Nara. Considerado o templo mais antigo do Japão, Gangoji resistiu por séculos, mesmo que hoje conserve apenas uma pequena parte do que foi no passado.

A saqueria e a experiência com saquê quente
Antes de pegarmos o trem de volta para Kyoto, fizemos uma última parada para nos aquecer em um dia frio em Nara. Assim, encontramos uma aconchegante saqueria (shuyakan), onde provamos um delicioso saquê quente. Dessa forma, a bebida trouxe o toque perfeito de calor e sabor, fechando nossa experiência na cidade com chave de ouro.

Nosso roteiro no Japão
Descubra mais sobre nossa viagem pelo Japão clicando nos links abaixo:
- Japão I – Tóquio: Shinjuku e Shibuya
- Japão II – Tóquio: Chiyoda, Ueno, Akihabara e Roppongi
- Japão III – Tóquio: Sumida, Asakusa e Odaiba
- Japão IV – Tóquio: Shiba, Chuo e Ginza
- Japão V – Monte Fuji
- Japão VI – Takayama: Old Town
- Japão VII – Takayama: Higashiyama Walking Course e Hida Folk Village
- Japão VIII – Kanazawa: Kenrokuen Garden e Kanazawa Castle
- Japão IX – Kanazawa: Nagamachi Samurai District, Nishi Chaya District e Higashi Chaya District
- Japão X – Kyoto: Palácios Imperiais, Castelo Nijo, Pavilhão Dourado, Templo Toji e Torre de Kyoto
- Japão XI – Kyoto: Fushimi Inari, Higashiyama e Gion
- Japão XII – Kyoto: Arashiyama e Estação de Kyoto