6º dia – Tradição em Takayama e a autenticidade de um ryokan
Chegou o dia de deixarmos Tóquio para trás e embarcarmos em uma nova aventura rumo a Takayama. Finalmente, ativamos nosso Japan Rail Pass, que já havíamos adquirido antecipadamente, facilitando nossa viagem de trem pelo Japão. Com isso, seguimos rumo ao nosso próximo destino, prontos para explorar uma nova cidade e viver uma experiência autêntica em um ryokan tradicional.
Nosso trajeto para Takayama exigiu uma conexão em Toyama, mas tudo correu perfeitamente. O sistema ferroviário japonês funciona com precisão impressionante, e conseguimos trocar de trem sem complicações.
Assim que chegamos à estação de Takayama, tivemos a recepção do motorista do Honjin Hiranoya Kachoan, nosso ryokan. Esse cuidado nos surpreendeu positivamente, pois tornou a chegada muito mais confortável e sem a necessidade de nos preocuparmos com transporte.
Ao chegarmos ao ryokan, soubemos que ainda não era possível fazer o check-in. Por isso, decidimos deixar nossas malas e aproveitar o tempo para explorar a cidade. Com isso, demos início à nossa jornada por Takayama, ansiosos para conhecer sua atmosfera tradicional, suas ruas charmosas e suas inúmeras histórias.
Takayama
Localizada na região montanhosa de Hida, na província de Gifu, Takayama se destaca por sua rica história e pelo charme de suas ruas preservadas. Para diferenciá-la de outras cidades com o mesmo nome, muitos a chamam de Hida-Takayama. Além disso, com uma população estimada de 90 mil habitantes, Takayama é a maior cidade do Japão em área.
Graças à sua elevada altitude e ao isolamento geográfico, Takayama se desenvolveu de maneira única, criando uma cultura própria ao longo de mais de 300 anos. Por isso, ao contrário de outras cidades japonesas que passaram por transformações intensas, Takayama conseguiu manter seu charme tradicional. Sua cidade velha, lindamente preservada, nos transporta diretamente para o passado, oferecendo um vislumbre autêntico do Japão de séculos atrás.
A história de Takayama: de Cidade-Castelo ao controle do Shogun
A região de Takayama tem uma história que remonta ao período Jōmon, uma das eras mais antigas da civilização japonesa. Mais tarde, durante o período Sengoku, Kanamori Nagachika governou a área a partir do Castelo de Takayama, transformando-a em uma cidade-castelo. Com o passar dos anos, a cidade cresceu e se consolidou como um importante centro regional.
Durante o período Edo, o Xogunato Tokugawa assumiu o controle direto da cidade, reconhecendo seu valor estratégico e econômico. Após a Restauração Meiji, Takayama foi integrada ao moderno sistema de municípios do Japão e, em 1889, tornou-se oficialmente uma cidade dentro da província de Gifu.
Durante a era feudal, Takayama ficou famosa não apenas por suas belas paisagens, mas também pela produção de madeira de alta qualidade e pela excelência de seus carpinteiros altamente qualificados. Por essa razão, o shogunato manteve a cidade sob controle direto, garantindo que seus recursos fossem utilizados de forma estratégica. Mesmo estando isolada nas montanhas, Takayama prosperou, transformando-se em um centro de artesanato e marcenaria de renome.
O Festival de Takayama: um dos mais tradicionais do Japão
Além de seu valor histórico, Takayama também brilha por suas festividades tradicionais. O Festival de Takayama, realizado na primavera e no outono, está entre os melhores festivais do Japão. Durante o evento, santuários portáteis ricamente decorados, conhecidos como yatai, desfilam pelas ruas da cidade, criando um espetáculo visual impressionante. Portanto, visitar Takayama durante essa celebração é uma oportunidade única de vivenciar a cultura japonesa em sua forma mais autêntica.
Takayama Jinya: um centro político preservado na história
Horário: 08:45 – 17:00 horas. Aberto todos os dias.
A riqueza dos recursos madeireiros da região de Hida, em torno de Takayama, despertou o interesse do Xogunato Tokugawa, que assumiu seu controle direto em 1692. Como consequência, o governo central enviou oficiais diretamente de Edo (atual Tóquio) para administrar a região, estabelecendo o Takayama Jinya como escritório oficial do governo local.
O Takayama Jinya desempenhou um papel fundamental na administração da região por quase três séculos. Até 1969, funcionou como sede do governo local e, desde então, se tornou um museu aberto ao público. Dessa forma, os visitantes podem explorar sua arquitetura tradicional e entender melhor o funcionamento da administração durante o período Edo.

Ao caminhar pelo complexo, encontramos várias salas de tatame, todas bem preservadas e repletas de detalhes históricos. Cada espaço servia a uma função específica, desde escritórios e salas de conferência até quartos de hóspedes e áreas residenciais. Além disso, uma das áreas mais marcantes do complexo é a sala de interrogatório, onde o governo realizava investigações e resolvia disputas.


Ao lado do edifício principal, encontramos um imponente armazém de madeira, construído por volta de 1600. Com o tempo, essa estrutura se consolidou como o maior armazém tradicional de arroz do Japão. Atualmente, ele abriga um museu que exibe uma coleção fascinante de documentos oficiais, pertences dos antigos líderes locais, mapas históricos da região de Hida e plantas detalhadas da cidade de Takayama.
Durante nossa visita ao Takayama Jinya, nos deparamos com a Estátua de Tetsutarō Yamaoka, uma homenagem a um importante militar japonês. Dessa forma, essa escultura honra a trajetória de Yamaoka Tetsutarō (1845-1906), um influente oficial do Exército Imperial Japonês, conhecido por suas contribuições na modernização militar do país durante a Era Meiji.

Nakabashi Bridge: um ícone fotográfico de Takayama
Durante nossa caminhada por Takayama, chegamos à Nakabashi Bridge, uma charmosa ponte que atravessa o rio Miyagawa e se destaca por seu corrimão carmesim em estilo tradicional japonês. Além de sua beleza arquitetônica, ela serve como um ponto icônico para fotos e marca a transição entre a parte moderna e a cidade velha de Takayama.

Além disso, a Nakabashi Bridge se transforma conforme as estações do ano, tornando cada visita única. Assim, na primavera, as cerejeiras em flor ao redor da ponte criam um visual de tirar o fôlego. Já, no outono, as folhas avermelhadas das árvores complementam o tom carmesim da estrutura. Já no inverno, a neve cobre a ponte e a paisagem ao redor, criando uma cena digna de um cartão-postal.
Old Town: o encanto da cidade velha de Takayama
Explorar a cidade velha de Takayama foi como voltar no tempo. Com suas ruas preservadas e construções históricas, a região mantém o charme da era feudal, quando Takayama prosperava como uma cidade mercantil rica e influente. Dessa forma, caminhar por suas ruelas nos permitiu mergulhar na tradição e na cultura local.
Entre os diversos trechos da cidade velha, a metade sul se destaca por sua preservação impecável. Especialmente na rua Sannomachi, encontramos um cenário que parece intocado pelo tempo, repleto de casas antigas, lojas tradicionais, charmosos cafés e fábricas de saquê que funcionam há séculos. Além disso, muitas dessas fábricas oferecem degustações e vendas diretas, permitindo uma experiência autêntica para os visitantes.

As lojas da cidade velha normalmente funcionam diariamente das 9:00 às 17:00, oferecendo uma variedade de produtos artesanais, souvenires e itens que refletem a cultura local. Por isso, passear por essa região não se resume apenas a admirar a arquitetura; é também uma oportunidade para conhecer o trabalho de artesãos e experimentar produtos típicos.
Além das lojas e cafés, algumas casas históricas estão abertas ao público. Assim, essas residências oferecem uma visão fascinante da vida dos comerciantes locais, exibindo desde itens domésticos tradicionais até obras de arte e artesanato da região.


Hida Kokubun-ji: o templo mais antigo de Takayama
Horário: 09:00 – 16:00 horas. Aberto todos os dias.
Durante nossa visita a Takayama, exploramos o Hida Kokubun-ji, um dos templos budistas mais históricos da região. Localizado no bairro de Sowamachi, ele pertence à seita Shingon e se destaca como um dos poucos templos provinciais sobreviventes estabelecidos pelo imperador Shōmu durante o período Nara (710-794). Dessa forma, o templo não apenas mantém sua importância religiosa, mas também carrega séculos de história e transformações.
O Shoku Nihongi, uma das crônicas oficiais do Japão antigo, registra que em 741, o imperador Shōmu, em resposta a uma devastadora epidemia de varíola, ordenou a construção de um mosteiro e um convento em cada província, dando origem aos kokubunji. Nesse contexto, o Hida Kokubun-ji surgiu como o templo principal da região.
O templo também associa sua fundação ao monge errante Gyōki, uma figura lendária do budismo japonês. No entanto, não há evidências históricas concretas que confirmem essa ligação. Apesar disso, os registros indicam que, em 819, o templo original foi destruído por um incêndio e reconstruído em 855, mostrando a resiliência e importância desse espaço sagrado ao longo dos séculos.
O Hida Kokubun-ji também se conecta a outro marco importante da cidade: o Castelo de Takayama. Quando o castelo foi demolido em 1695, algumas de suas estruturas foram transferidas para o templo, incluindo o portão principal, que pode ser visto até hoje. Dessa forma, ao explorar o local, não apenas testemunhamos a história do budismo na região, mas também encontramos traços da antiga fortaleza da cidade.


Takayama Betsuin Shorenji Temple: um tesouro histórico em Takayama
Horário: 09:00 – 16:00 horas. Aberto todos os dias.
Durante nossa visita a Takayama, exploramos o Takayama Betsuin Shorenji Temple, um templo budista da seita Jodo Shinshu Otani. Originalmente fundado em 1253 pelo discípulo de Shinran, Kanenbo Zenshun, em Shirakawa-go, o templo foi transferido para sua localização atual em Takayama em 1960 para evitar a submersão devido à construção de uma represa.


Ao nos aproximarmos, ficamos impressionados com o magnífico portão de madeira que dá as boas-vindas aos visitantes. Embora tenha passado por reconstruções, o templo mantém uma atmosfera serena e oferece um vislumbre da arquitetura tradicional japonesa. Assim, o ambiente tranquilo é perfeito para uma pausa reflexiva durante a exploração da cidade.

Experiência tradicional no Honjin Hiranoya Kachoan: um ryokan inesquecível
Após um dia intenso explorando Takayama, finalmente retornamos ao nosso ryokan, o Honjin Hiranoya Kachoan, para fazer o check-in. Desde o primeiro momento, sentimos a diferença de estar em uma hospedagem tradicional japonesa. Assim que chegamos, tiramos nossos sapatos no tatami da recepção, seguindo a etiqueta local, e fomos recebidos por uma atenciosa funcionária, que nos acompanhou até o quarto.
Ao entrarmos no quarto, notamos imediatamente o ambiente autêntico e acolhedor. Antes de mais nada, nossas malas já estavam organizadas no quarto, demonstrando o cuidado e a atenção ao detalhe do serviço do ryokan. Logo em seguida, a funcionária nos entregou nossos yukatas, explicando com paciência a maneira correta de vesti-los. Além disso, ela nos guiou por todos os detalhes do quarto e nos explicou o funcionamento do hotel, garantindo que nossa estadia fosse confortável.
A estrutura do quarto nos transportou diretamente para um Japão tradicional. Assim, o tatami, os futons cuidadosamente arrumados para a noite, as portas de correr shoji e a decoração minimalista criaram um ambiente sereno e especial. Dessa forma, a sensação de estar vivenciando a cultura japonesa de forma autêntica se tornou ainda mais intensa.


Um jantar kaiseki memorável
Depois de um breve descanso, nos preparamos para o jantar. Como já estava tudo organizado, seguimos para o restaurante do ryokan, onde uma sala privativa nos esperava. Sem dúvida, esse detalhe tornou a experiência ainda mais especial e personalizada.
Assim que os pratos começaram a ser servidos, percebemos que estávamos prestes a vivenciar uma experiência gastronômica excepcional. Entre os destaques, experimentamos a prestigiada carne wagyu, acompanhada de peixes frescos e outros pratos tradicionais preparados com extrema delicadeza. Além disso, harmonizamos a refeição com saquê, o que elevou ainda mais os sabores e a experiência.



Depois desse banquete incrível, voltamos diretamente para o nosso quarto, prontos para descansar. Certamente, dormir em um futon sobre o tatami, dentro de um ambiente tão tradicional, fez com que nos sentíssemos completamente imersos na cultura japonesa.
Nosso roteiro no Japão
Descubra mais sobre nossa viagem pelo Japão clicando nos links abaixo:
- Japão I – Tóquio: Shinjuku e Shibuya
- Japão II – Tóquio: Chiyoda, Ueno, Akihabara e Roppongi
- Japão III – Tóquio: Sumida, Asakusa e Odaiba
- Japão IV – Tóquio: Shiba, Chuo e Ginza
- Japão V – Monte Fuji
- Japão VII – Takayama: Higashiyama Walking Course e Hida Folk Village
- Japão VIII – Kanazawa: Kenrokuen Garden e Kanazawa Castle
- Japão IX – Kanazawa: Nagamachi Samurai District, Nishi Chaya District e Higashi Chaya District
- Japão X – Kyoto: Palácios Imperiais, Castelo Nijo, Pavilhão Dourado, Templo Toji e Torre de Kyoto
- Japão XI – Kyoto: Fushimi Inari, Higashiyama e Gion
- Japão XII – Kyoto: Arashiyama e Estação de Kyoto
- Japão XIII – Nara