Espanha – País Basco IV: Guernica, Lequeitio e Ondárroa

4º dia – Na cidade histórica de Guernica, festividades em Lequeitio e o encanto final de Biscaia em Ondárroa

Chegamos ao nosso quarto e último dia na província de Biscaia! Vamos começar o dia após o café da manhã com uma visita à famosa cidade de Gernika, em um clima, de novo, meio chuvoso. Depois, seguimos para Lekeitio, onde faremos uma pausa para o almoço, e, finalmente, terminaremos o dia em Ondarroa, onde passaremos a noite. Prontos para mais um dia de descobertas e belas paisagens?

Guernica y Luno (Gernika-Lumo)

Guernica y Luno, inserida na área natural de Urdaibai, têm aproximadamente 17.000 habitantes e são uma das cidades mais populosas da província, ao lado de Bermeo.

O município surgiu no século XIX, após a união administrativa da anteiglesia de Luno e da vila de Guernica. A vila foi fundada em 28 de abril de 1366 por Tello de Castilla, senhor de Biscaia, em terras que pertenciam a Luno. A fusão entre as duas entidades só ocorreu em 1882, após séculos de confrontos sobre a delimitação jurisdicional.

Guernica y Luno também é o local onde se reuniam as Assembleias Gerais de Biscaia, sob o famoso carvalho de Guernica, símbolo das liberdades dos bascos. Foi sob essa árvore que os senhores de Biscaia juravam respeito ao fuero (jurisdição) da província.

Infelizmente, Guernica também é lembrada pelo bombardeio devastador em 26 de abril de 1937, durante a Guerra Civil Espanhola, realizado pela Legião Condor, a serviço de Franco. Esse evento inspirou Pablo Picasso a criar a célebre obra Guernica, exposta no Museu Rainha Sofia em Madrid, como um poderoso símbolo contra a guerra.

Além de sua rica história, Guernica é famosa por abrigar um dos frontões mais importantes do mundo, onde se pratica a modalidade de pelota basca chamada jai alai ou cesta punta, conhecida como o esporte mais rápido do mundo. A bola pode alcançar velocidades superiores a 300 km/h, um feito que garantiu seu lugar no Livro dos Recordes do Guinness.

O Mural do “Guernica” em Gernika

É possível admirar uma reprodução artesanal fiel da icônica obra de Pablo Picasso, criada após o bombardeio de Guernica em 26 de abril de 1937. Essa reprodução mantém todos os detalhes da composição original, que Picasso utilizou para expressar sua indignação com a tragédia.

Na borda inferior da obra, a inscrição Guernica Gernikara (“O Guernica a Guernica”) foi adicionada, simbolizando o movimento que defende o traslado da obra original para a cidade de Guernica, como forma de resgatar essa parte tão significativa de sua história.

Mural do Guernica em Gernika
Parque dos Povos da Europa: arte e natureza em homenagem à paz

Inaugurado em outubro de 1991, o parque oferece uma interessante combinação de arte e natureza, com uma diversidade de árvores e arbustos distribuídos em quatro setores distintos. No lado norte do parque, encontra-se uma vegetação mais densa, com árvores em destaque, além das impressionantes esculturas de Eduardo Chillida e Henry Moore. A leste, estão representados os quatro principais ecossistemas do País Basco Atlântico. Ao sul, um belo lago complementa o cenário, enquanto o restante do parque é preenchido por um jardim clássico.

Entre as obras de arte que enriquecem o local está a escultura Gure Aitaren Etxea, criada por Eduardo Chillida em 1988, encomendado pelo Governo Basco para marcar o 50º aniversário do bombardeio de Guernica. O título da obra significa “A Casa do Nosso Pai” e serve como um monumento à paz, direcionado em homenagem à Árvore de Guernica, símbolo da tradição e da história da cidade.

Outra peça significativa é a escultura de Henry Moore, intitulada Grande Figura num Abrigo (1986), feita em bronze fundido, que também encontra seu lugar nesse parque, tornando-o um espaço onde arte e história se encontram em homenagem à memória e à paz.

Igreja de Santa Maria: um tesouro do gótico basco

Localizada na parte mais alta de Guernica, a Igreja de Santa Maria é um dos melhores exemplos da arquitetura gótica basca. Sua construção teve início em 1418, mas, ao longo dos séculos, passou por diversas modificações. Somente em 1715, já no período da Renascença, sua construção foi finalmente concluída.

A igreja, além de seu valor histórico, oferece uma vista privilegiada da cidade, refletindo o impacto do estilo gótico na região e o processo de evolução arquitetônica que se estendeu por vários séculos.

Igreja de Santa Maria
Casa de Juntas de Guernica e a Árvore de Guernica: símbolos da liberdade basca

Fomos até a emblemática Casa de Juntas, um dos lugares mais importantes do País Basco do ponto de vista histórico e político. Esse complexo monumental carrega séculos de significado e identidade. No centro do conjunto, encontramos a famosa Árvore de Guernica, um carvalho sob o qual, desde a Idade Média, realizavam-se as Assembleias do Senhorio de Biscaia.

Além disso, o complexo inclui um edifício anexo, que já funcionou como a antiga igreja de Santa María la Antigua, mas que hoje abriga a sede das Assembleias Gerais de Biscaia, o órgão máximo institucional da província. Por sua importância histórica e simbólica, todo o conjunto foi declarado Monumento de Interesse Cultural, o que reforça ainda mais sua relevância para a história basca.

Historicamente, o Senhorio de Biscaia se dividia em três grandes regiões: a Merindad de Durango, Las Encartaciones e as Juntas de Guernica. Nessas assembleias, representantes das entidades municipais, com direito a voz e voto, se reuniam para debater e resolver questões comuns ao território. De forma bastante simbólica, tanto o senhor de Biscaia quanto o rei da Espanha juravam, diante das Juntas, respeitar os fueros, ou seja, as liberdades e jurisdições locais. No entanto, com a suspensão dos fueros em 1877, esse sistema perdeu sua função, até que foi restaurado em 1979, com o novo estatuto político do Estado espanhol.

A árvore sagrada, o parlamento histórico e o legado preservado

Originalmente, o espaço das Juntas era bastante simples. Consistia apenas na Árvore de Guernica, uma tribuna de pedra para os junteros e a pequena ermida de Santa María la Antigua. Foi somente em 1826, durante o século XIX, que começaram as obras das atuais instalações. Sob a direção do arquiteto Antonio Echevarría, ergueram o prédio em estilo neoclássico, combinando as funções de igreja e parlamento. No interior, há uma área elíptica, onde dispuseram os assentos dos junteros, com um altar que, simbolicamente, também funcionava como mesa presidencial.

No entanto, é a Árvore de Guernica que ocupa o lugar mais especial no coração dos bascos. O carvalho atual foi plantado em 2015, substituindo o anterior de 2004, e é descendente direto da “Árvore Filho” (1860–2004), da “Árvore Velha” (1792–1860) e da original “Árvore Pai” (anterior a 1792). Foi sob essas árvores que os senhores de Biscaia juravam respeitar os fueros, e, até hoje, o Lehendakari (Presidente do Governo Basco) realiza sua promessa de posse nesse mesmo local.

Além da árvore e do parlamento, o complexo abriga ainda uma pintura do século XVII, de Francisco de Mendieta y Retes, que retrata o momento em que Fernando, o Católico, jurou os fueros sob a Árvore de Guernica. Próximo ao local, também é possível visitar o Convento das Clarissas e a antiga Câmara Municipal de Lumo.

Contudo, apesar da importância do lugar e do desejo de conhecê-lo por dentro, não conseguimos acessar o interior, pois era necessário fazer uma reserva com antecedência.

Pasealeku: praça com história e memória

Um dos principais destaques da praça é o Monumento aos Gudaris, em homenagem aos soldados bascos que lutaram pela liberdade durante a Guerra Civil Espanhola. O monumento é um tributo aos que sacrificaram suas vidas defendendo a autonomia basca, lembrando aos visitantes a história de resistência e luta da região.

Monumento aos Guadaris, em Pasealeku

Além disso, a praça abriga um refúgio antiaéreo, construído para proteger a população dos bombardeios, como o trágico ataque aéreo sofrido por Guernica em 1937. Embora o refúgio não esteja aberto para visitação regular, ele serve como um símbolo da resiliência da cidade e de seus habitantes durante tempos difíceis.

Outro marco importante em Pasealeku é o antigo edifício das Escolas Públicas, uma construção histórica que testemunhou gerações de estudantes e faz parte do patrimônio arquitetônico e educativo de Guernica.

Vista de Pasealeku, com o edifício das Escolas Públicas.
Foru Plaza: o coração vibrante de Guernica

A Foru Plaza é uma das praças mais emblemáticas de Guernica, localizada no centro da cidade. Um dos destaques é a estátua de Don Tello, o fundador de Guernica, que domina o centro da praça. Este monumento celebra a importância histórica da cidade e seu papel na formação da província de Biscaia.

Além disso, a praça abriga o famoso Museu da Paz, uma instituição dedicada a promover a paz e a memória do bombardeio sofrido pela cidade em 1937, durante a Guerra Civil Espanhola. O museu oferece uma experiência educativa e emocional, com exposições interativas que refletem sobre os horrores da guerra e a importância da paz.

A Foru Plaza também é cercada por edifícios históricos e modernos, incluindo a Câmara Municipal, que contribui para a atmosfera de convivência entre o passado e o presente. Durante o ano, a praça é palco de diversos eventos culturais e sociais, como feiras e festas tradicionais. Ao redor da praça, se encontram bares e restaurantes onde é possível provar a gastronomia local.

Rua Pablo Picasso: movimentada, com seu bares e restaurantes

A Rua Pablo Picasso é uma das vias mais emblemáticas de Guernica, famosa por combinar cultura, gastronomia e uma atmosfera acolhedora. Um dos principais atrativos da rua é a Fonte de Mercúrio, uma bela escultura dedicada ao deus romano do comércio e das comunicações. A escultura de Mercúrio, com seu capacete alado, é uma lembrança da vitalidade e dinamismo que caracterizam a cidade.

Também, ao longo da rua, você encontrará uma variedade de bares e restaurantes que oferecem desde pratos típicos da culinária basca, como pintxos e txakoli, até opções mais contemporâneas e internacionais. De fato, a gente jantou num dos restaurantes desta rua.

Rua Pablo Picasso, com a Fonte de Mercúrio

Lequeitio (Lekeitio)

Distância (de Guernica y Luno): 21 km. Duração: 31 minutos.

Após visitarmos Guernica, seguimos viagem pela costa até Lequeitio, onde chegamos em pleno período de suas festas tradicionais. Logo na chegada, percebemos que o centro da cidade possui estacionamento restrito aos moradores. Por isso, para evitar multas, estacionamos em um dos parques destinados a visitantes fora do núcleo urbano, algo comum em várias cidades da região.

Com cerca de 7.500 habitantes, Lequeitio ostenta orgulhosamente os títulos de “Nobre e Leal Vila”. A cidade encanta de imediato com sua geografia: a charmosa ilha de San Nicolás e o encontro do ria de Lea com o mar Cantábrico formam um cenário deslumbrante.

A história de Lequeitio remonta a 1325, quando María Díaz de Haro, senhora de Biscaia, fundou a vila e concedeu fueros próprios à população local. No entanto, as comunidades vizinhas rejeitaram esses fueros, gerando conflitos e disputas. Diante disso, o rei Afonso XI de Castela interveio em 1334, confirmando os fueros e ordenando a construção de muralhas defensivas em torno da cidade.

Durante séculos, a pesca sustentou a economia de Lequeitio. Entre 1500 e 1900, a vila foi o segundo porto mais importante da província, atrás apenas de Bermeo, até ser superada por Ondarroa. A caça às baleias teve papel central na história local, tanto que um cetáceo aparece no próprio brasão da cidade. Além disso, Lequeitio também contribuiu para a expedição de Cristóvão Colombo em 1492, enviando pelo menos três marinheiros à histórica travessia do Atlântico.

Entre imperadores e gansos: a cultura viva de Lequeitio

Com o passar do tempo e o declínio da atividade pesqueira, o turismo emergiu como nova base econômica da cidade. A beleza natural, somada ao peso histórico, passou a atrair viajantes de diversos lugares. Entre 1922 e 1929, a cidade foi escolhida como refúgio de verão da imperatriz Zita de Bourbon-Parma, que se hospedava no elegante Palácio Uribarren a convite do rei Alfonso XIII.

Como mencionamos anteriormente, chegamos a Lequeitio em pleno período festivo. As Festas de San Antolines, celebradas de 1 a 8 de setembro, tomam conta da cidade com muita música, danças e eventos populares. Dentre todas as tradições, o destaque absoluto é o Dia do Ganso (Antzar Eguna), realizado sempre no dia 5 de setembro.

Com mais de três séculos de história, essa competição inusitada consiste em agarrar um ganso pendurado sobre o porto, enquanto os participantes são puxados para o alto e mergulhados repetidamente na água. Vence quem conseguir aguentar mais tempo segurando o animal. Atualmente, por motivos éticos, o ganso é feito de borracha, mas a emoção e o espírito da tradição seguem intactos.

Embora tenhamos chegado à cidade um dia após o Dia do Ganso, ainda assim conseguimos sentir a energia das festas. As ruas estavam cheias, as varandas decoradas, e o clima festivo permanecia no ar.

As fantásticas vistas do Mirante de Santa Catarina

É um dos pontos mais encantadores para se visitar na região. Localizado próximo ao Farol e à Ermida de Santa Catalina, este mirante oferece vistas panorâmicas espetaculares do Mar Cantábrico e da costa basca. Antigamente, também era utilizado como ponto de observação de cetáceos.

Mirante de Santa Katalina, em Lekeitio
As encantadoras ruas e prédios do Centro Histórico de Lekeitio

Logo atrás do porto fica o Centro Histórico, antigo bairro de pescadores e outro dos lugares mais bonitos para se conhecer em Lekeitio. Caminhar pelas suas estreitas ruas de paralelepípedos como Arranegi e Ezpeleta, rodeadas de palácios medievais, casas de pescadores e igrejas antigas, fará com que você descubra recantos encantadores como a Plaza Arranegiko Zabala, onde ainda se vende peixe fresco e onde se encontra o belo casarão barroco Upa-Etxea.

Entre os prédios mais notáveis estão a Antiga Confraria de Pescadores de São Pedro, a Prefeitura (do século XVIII, é um edifício típico barroco), os palácios de Oxangoiti, Uriarte (do XVII, é um palácio barroco), Zahar (o mais antigo da vila) e Abaroa e a Igreja de San José.

Prefeitura de Lekeitio
Basílica da Assunção da Nossa Senhora, Monumento Nacional em Euskadi

A Basílica da Assunção da Nossa Senhora, datada do século XV, é uma das mais importantes construções do gótico tardio no País Basco, declarada Monumento Nacional. Seu exterior é imponente, com destaque para a bela fachada ocidental. No interior, o magnífico retábulo gótico flamengo do século XVI chama a atenção, sendo considerado um dos melhores de Biscaia. Além disso, abriga uma preciosa talha mariana da Nossa Senhora da Antígua, do século XII, em um retábulo barroco próprio, uma verdadeira joia artística e religiosa. Infelizmente, não conseguimos entrar no seu interior porque estava fechada.

Fachada ocidental da Basílica de la Asunción de Nuestra Señora, em Lekeitio
O charme do Porto de Lekeitio

O Porto de Lekeitio é, sem dúvida, o lugar mais pitoresco da vila, com seus pequenos barcos de pesca, as casas coloridas com varandas de madeira e a presença de diversos bares com vista para o mar. Em um desses bares, aproveitamos para almoçar e os típicos pintxos. Estavam uma delícia! É o cenário perfeito para se desconectar e saborear a autêntica gastronomia local. Do porto, também se pode apreciar vistas muito bonitas da foz da ria Lea, com as praias de Isuntza e Karraspio Txikia ao fundo.

Tranquilidade da Praia de Isuntza e as vistas da Ilha de San Nicolás

Situada junto ao porto de Lekeitio, a praia de Isuntza é a mais movimentada da vila e perfeita para famílias, graças às suas águas calmas. Quando a maré baixa, é possível atravessar até a ilha de San Nicolás, localizada em frente, por um caminho de cimento e pedra. Essa ilha, que antigamente abrigava uma colônia de leprosos, oferece, do seu ponto mais alto, uma excelente vista da cidade e dos seus arredores.

Aproveitando um dos poucos dias de sol que tivemos até agora no País Basco, decidimos relaxar um pouco na praia. Aproveitamos também para caminhar até a ilha de San Nicolás, onde tiramos algumas fotos fantásticas. Embora não tenhamos subido até o topo da ilha, a vista do caminho já foi incrível, e o passeio valeu muito a pena!

Ondárroa (Ondarroa)

Distância (de Lequeitio): 19 km. Duração: 23 minutos.

Após nossa visita a Lequeitio, seguimos viagem pela costa até chegar a Ondarroa, onde passamos a noite no Hostel Arrigorri Ostatu Jatetxea. Localizado em um ponto privilegiado da cidade, o hostel oferece vistas espetaculares para a Praia de Arrigorri. Contudo, antes de relatar nossa experiência por lá, vale muito a pena conhecer um pouco da história dessa charmosa vila costeira.

Atualmente, Ondarroa abriga pouco mais de 8.000 habitantes, mas sua importância histórica supera em muito seu tamanho. A vila recebeu os títulos honoríficos de “Muito Nobre e Leal”, o que já indica seu papel estratégico e sua fidelidade à Coroa. Em 1327, María Díaz de Haro autorizou a fundação da vila nas terras da anteiglesia de Berriatúa. Poucos anos depois, em 1335, o rei Alfonso XI de Castela concedeu aos moradores o direito de explorar o tráfego no antigo ponte de madeira sobre o rio Artibai, exatamente onde se encontra, hoje, a bela ponte velha, construída no século XVIII.

Já em 1351, Ondarroa se uniu a cidades como Bilbao, Plencia e Lequeitio em uma liga contra a Inglaterra, evidenciando sua relevância política e comercial na época. No entanto, no final do século XV, a vila enfrentou uma grande tragédia: foi quase destruída por um incêndio durante as guerras banderizas. Como resposta a essa calamidade, os habitantes solicitaram — e conseguiram — isenção de impostos do rei Enrique IV, em reconhecimento aos seus serviços prestados à monarquia.

Porto, pescadores e memórias de luta

Desde seus primórdios, a pesca sustentou Ondarroa. A vila se transformou, com o passar dos séculos, em um dos portos pesqueiros mais importantes do Mar Cantábrico. Já no século XIX, Ondarroa possuía uma frota significativa de barcos de pesca de altura, ao mesmo tempo em que desenvolvia atividades comerciais e navais. Além disso, a vila teve papel central na indústria de conservas, sobretudo na produção de anchovas, produto emblemático da costa basca.

Durante a Guerra Civil Espanhola, Ondarroa sofreu grandes perdas humanas. No entanto, no pós-guerra, a vila retomou seu crescimento. O porto pesqueiro se expandiu, impulsionando a economia e atraindo imigrantes de diversas partes da Espanha e de Portugal.

No final do regime franquista e ao longo da transição espanhola, Ondarroa tornou-se um centro de resistência política. A oposição ao regime se intensificou, e alguns de seus habitantes se destacaram na militância, incluindo Andoni Arrizabalaga e Fran Aldanondo, ligados à ETA.

Hoje, Ondarroa preserva com orgulho suas tradições, sua identidade basca e, acima de tudo, seu vínculo profundo com o mar. Além disso, a vila continua sendo um dos portos mais ativos e importantes do norte da Espanha, combinando herança histórica, cultura viva e paisagens impressionantes.

Passeio pela Orla de Ondárroa até a Praia de Saturraran (Mutriku)

Após fazer o check-in no hostel, decidimos aproveitar o sol e caminhar um pouco pela orla, que nos leva até a Praia de Saturraran (após atravessar por uma pequena ponte o rio Artibai), já no município de Mutriku, na província de Guipúscoa. O passeio oferece vistas deslumbrantes, assim como as que encontramos na própria Praia de Saturraran. Para quem aprecia o nudismo, há uma praia menor ao lado, onde é possível praticá-lo.

Ponte de Itsas Aurre: a modernidade de Santiago Calatrava em Ondarroa

Voltamos pela orla para Ondarroa e agora vamos explorar a cidade. Para entrar no centro, atravessamos a Ponte de Itsasaurre, Esta ponte moderna, com seu design elegante, conecta as duas margens do rio Artibai, no ponto onde ele deságua no mar Cantábrico.

A estrutura de Santiago Calatrava, famosa por suas formas orgânicas e linhas arrojadas, oferece não apenas funcionalidade ao facilitar o trânsito entre as áreas residenciais e o centro, mas também é um ícone arquitetônico da cidade. Além disso, a Ponte proporciona belas vistas do porto e das casas coloridas com varandas.

Ponte Itsasaurre, de Calatrava
Explorando o encantador Centro Histórico de Ondarroa

O Centro Histórico de Ondarroa mantém o traçado medieval, formado por quatro ruas estreitas que sobem pela crista da montanha. As casas dos pescadores criam um conjunto colorido, com varandas de madeira e amplos beirais pintados em diferentes cores, de acordo com o gosto de cada morador. Embora o desenho das ruas seja medieval, a maioria das casas data do século XIX, o que dá à área um charme especial.

O centro histórico está dividido em uma parte alta e uma parte baixa, e ambas estão conectadas não apenas por escadarias, mas também por vários elevadores, facilitando o acesso

A Ponte Velha: história e resistência ao longo dos séculos

A Ponte Velha de pedra foi erguida no local onde anteriormente existia uma ponte de madeira medieval, construída por volta do ano 1330. Esta ponte original tinha uma seção levadiça, permitindo a passagem de embarcações.

Em 1346, a prefeitura de Ondárroa teve o direito de cobrar um pedágio de todos que cruzassem a ponte, seja a pé ou para permitir a passagem de barcos. Esses rendimentos eram destinados à manutenção da infraestrutura. A ponte atual foi construída em 1689, e em 1855 foi discutida a substituição devido às suas características estreitas e à inclinação acentuada.

Durante a Guerra Civil Espanhola, em 4 de outubro de 1936, o arco central da ponte foi destruído e reconstruído em 1939 pelo chamado Batalhão de Trabalhadores Especialistas. A cheia de 14 de outubro de 1953 derrubou novamente o arco central, que foi reconstruído no ano seguinte, mantendo o design original. Desde esta ponte, se tem vistas excelentes da cidade e do rio.

Igreja de Santa Maria: uma joia do gótico tardio

A Iglesia de Santa María, datada de 1462 ou 1480, é um belo exemplo do estilo gótico tardio, embora não se encaixe no típico gótico basco. Destaca-se pelas impressionantes esculturas borgonhesas que a adornam, conhecidas como kortxeleku mamuak, além das fascinantes gárgulas e rosáceas que completam sua arquitetura. Ao longo de seus muros, um elegante friso com motivos florais e animais acompanha a construção, sobre a qual se ergue um coroamento rendilhado de formas geométricas. No interior, encontramos um magnífico retábulo maior plateresco que cobre um retábulo gótico feito em pedra, mas a gente não conseguiu ver porque a igreja estava fechada.

A igreja se encontra sobre a ribeira do rio Artibai, em robustas arcadas que ainda hoje preservam as argolas onde os barcos costumavam atracar. Ademais, um passeio encantador, chamado korreta, circunda a igreja.

Igreja de Santa Maria

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