Após o almoço em Saint-Louis, seguimos viagem rumo ao Deserto de Lompoul. Cercados pelas vastas dunas douradas, desfrutamos de um passeio de camelo, saboreamos um jantar típico ao som de música tradicional e passamos a noite em uma haima (tenda tradicional), mergulhando na essência do deserto.
No dia seguinte, partimos para Touba, onde tivemos a oportunidade de admirar a impressionante Mesquita de Touba, um dos maiores e mais importantes marcos religiosos do Senegal. Encerramos o dia com nossa chegada a Kaolack, onde passamos a noite em um hotel encantador com vistas para o Rio Saloum.
5º dia (tarde-noite) – Uma noite mágica no Deserto de Lompoul
Deserto de Lompoul
Distância: 145 km. Duração: 2 horas e 30 minutos.
Para chegar ao Deserto de Lompoul, deixamos nosso carro estacionado em um vilarejo próximo. Em seguida, um veículo adaptado nos buscou junto com outros hóspedes. Esse transporte se mostrou indispensável, pois as dunas impossibilitam o acesso com veículos comuns.
O Deserto de Lompoul, situado no noroeste do Senegal, oferece uma experiência singular. Localizado a meio caminho entre Dakar e Saint-Louis, na região de Louga, e a menos de dez quilômetros do oceano, ele combina fácil acesso e beleza natural. Suas dunas, que chegam a atingir entre 40 e 50 metros de altura, revelam uma areia fina com tonalidades que variam do ocre ao avermelhado.
Para muitos viajantes, Lompoul representa uma amostra reduzida dos imensos desertos da Mauritânia, porém com uma vantagem significativa: além de mais acessível, o local oferece um ambiente seguro e estruturado para receber visitantes. Assim, o deserto proporciona uma imersão na região Sahelo-Saariana, mas sem as dificuldades de deslocamento típicas de áreas mais remotas.



Ficamos hospedados no Camp du Désert (Esprit D’Afrique), um acampamento encantador no coração do deserto. Após deixar nossos pertences na confortável tenda habilitada, conhecida como haima, nos preparamos para um passeio de camelo pelas dunas. Apesar de não ser nossa primeira vez montando em camelos, a experiência nas impressionantes dunas do Lompoul foi incrível.



Depois do passeio, aproveitamos um momento de descanso antes de nos reunirmos para o jantar.
O ambiente era animado e repleto de energia, com música tradicional senegalesa ao vivo, criando uma atmosfera mágica sob o céu estrelado do deserto. Foi, sem dúvida, uma experiência inesquecível que capturou o espírito único do Senegal.
6º dia – A impressionante Grande Mesquita de Touba e noite em Kaolack
Touba
Distância: 130 km. Duração: 2 horas e 30 minutos.
Após o café da manhã no Camp du Désert (Esprit D’Afrique), seguimos viagem em direção a Touba para conhecer a imponente Grande Mesquita, um dos marcos religiosos e culturais mais importantes do Senegal. Localizada no departamento de Mbacké, Touba é a segunda cidade mais populosa do país, com mais de um milhão de habitantes, ficando atrás apenas de Dakar. No entanto, mais do que uma grande cidade, Touba é o centro espiritual da irmandade muçulmana conhecida como Muridismo.
O Muridismo e sua influência na cultura senegalesa
O Muridismo é uma ordem sufi fundada por Ahmadou Bamba em 1883. Desde a sua origem, promove valores que destacam a ortodoxia islâmica, a tradição do Profeta e a importância do trabalho e da ciência. Além disso, essa ordem influenciou profundamente a cultura senegalesa, sobretudo entre o povo Wolof. Seus princípios de ajuda mútua, solidariedade e santificação do trabalho moldaram o modo de vida local. Embora receba críticas de outros grupos islâmicos pela devoção intensa a Ahmadou Bamba, os muridis mantêm-se firmes nos seus preceitos.
Touba possui um status administrativo especial no Senegal, com regulamentos baseados na Sharia, segundo a escola jurídica Maliki. A administração está sob a autoridade do califa geral dos muridis, que exerce influência até em decisões políticas. Em 2023, por exemplo, o califa chegou a proibir assembleias de voto na cidade, embora tenha flexibilizado a medida posteriormente.
Os muridis contribuem fortemente para o desenvolvimento de Touba, enviando recursos obtidos em atividades comerciais internacionais. Apesar de críticas ligadas à suposta exploração de trabalhadores em plantações dos marabus, a cidade avançou significativamente, especialmente durante o mandato de Serigne Abdoul Ahad Mbacké, responsável por melhorias urbanas como eletrificação, redes de telefonia e a ampliação da própria Grande Mesquita. Assim, Touba combina fé, tradição e progresso em uma mesma paisagem urbana.
Grande Mesquita de Touba: símbolo de fé e majestade
Iniciamos a manhã visitando a Grande Mesquita de Touba, ponto alto do dia. Logo na chegada, contamos com o acompanhamento de um guia local, já que apenas eles conduzem as visitas. Durante o percurso, vivemos um momento curioso: encontramos o único turista brasileiro de toda nossa viagem pelo Senegal e Gâmbia. Assim, aproveitamos para trocar impressões e conversar rapidamente sobre nossas experiências. Como manda a tradição islâmica, Cristina precisou cobrir a cabeça e as pernas antes de entrar, respeitando integralmente as regras locais.
A Grande Mesquita de Touba é, sem dúvida, um dos marcos religiosos mais importantes do Senegal e um símbolo da fé muridi. Em 1926, Ahmadou Bamba, fundador do Muridismo, decidiu iniciar sua construção. Entretanto, ele faleceu em 1927, antes de ver a obra concluída. Somente em 1963, a mesquita ficou pronta e, desde então, permanece sob controle da família de Bamba, que descansa em um mausoléu no interior.
Arquitetura e significado espiritual
Este grandioso edifício é o maior de Touba e uma das maiores mesquitas da África, com capacidade para receber até 7.000 fiéis. Sua arquitetura impressiona com quatro minaretes de 66 metros de altura nos cantos do edifício e um minarete central de 86,80 metros, conhecido como Lamp Fall, em homenagem ao Sheikh Ibrahima Fall, um dos discípulos mais próximos de Ahmadou Bamba. Esses minaretes podem ser avistados a até 10 quilômetros de distância, simbolizando a importância e o alcance espiritual da mesquita.



Encimando o edifício estão três grandes cúpulas, que completam a majestade da construção. A mesquita possui ainda seis entradas principais: uma porta a leste, outra a oeste e duas de cada lado, permitindo o acesso de fiéis e visitantes.



Dentro da mesquita, no canto nordeste, encontra-se o mausoléu de Ahmadou Bamba, próximo à sala de orações.
Este espaço sagrado, com cerca de 10×10 metros, é um local de intensa devoção para os muridis e peregrinos que visitam Touba. O Alcorão é lido 28 vezes por dia na mesquita, reforçando a atmosfera de fé e contemplação.
A Grande Mesquita de Touba é o coração espiritual da cidade e o ponto culminante do Grande Magal de Touba, uma das maiores peregrinações religiosas do mundo. Este evento anual celebra o exílio de Ahmadou Bamba e atrai milhões de fiéis, consolidando Touba como um dos centros espirituais mais importantes do mundo muçulmano.
Kaolack
Distância: 110 km. Duração: 2 horas e 20 minutos.
Kaolack, com seus 300 mil habitantes, é uma cidade vibrante localizada na margem norte do rio Saloum e capital da região de mesmo nome. A cidade desempenha um papel crucial no comércio regional, sendo reconhecida como o principal centro de produção e processamento de amendoim do Senegal, um dos pilares da economia local. Outra atividade industrial relevante são as salinas, localizadas do outro lado do rio Saloum.
Além de seu caráter mercantil, Kaolack é um importante centro de educação islâmica e espiritualidade. A cidade é o núcleo do ramo Ibrahimiyya da ordem Sufi Tijaniyyah, fundada por Ibrayima Ñas, e abriga a mesquita Leona Niassene, uma das maiores e mais conhecidas do Senegal.
Kaolack é a sucessora de Kahone, antiga capital do reino de Saloum. Kahone, originalmente marcada por uma árvore sagrada na margem direita do rio Saloum, consistia em vários bairros separados por campos, cada um governado por um oficial local. Entre esses bairros estava Kaolack.
Com o aumento dos interesses franceses na região no início do século XIX, buscando substituir o comércio de escravos por produtos como o amendoim, Kaolack ganhou importância estratégica. A produção de amendoim foi introduzida em Saloum, e com a permissão do rei local, os franceses estabeleceram uma fábrica fortificada na área ribeirinha de Kaolack.
Chegada no hotel e descanso
Após todas as aventuras anteriores, chegamos a Kaolack bastante cansados. Fomos direto para o Le Relais de Kaolack Hotel, onde decidimos descansar e nos preparar para as atividades do dia seguinte, que marcaria nossa chegada na Gâmbia.
O hotel foi um ótimo refúgio para recuperar as energias, oferecendo vistas encantadoras do Rio Saloum e das salinas próximas. No entanto, o cheiro era bastante forte, provavelmente devido às águas do rio e às atividades na região.
Assim, encerramos essa primeira etapa de nossa jornada pelo Senegal, mas ainda há mais para explorar neste país incrível quando retornarmos da Gâmbia.
Conheça o resto de nossa aventura no Senegal nos links abaixo: