Senegal III – Saint-Louis

3º dia – Rumo a Saint-Louis: uma viagem ao norte do Senegal

Após um café da manhã tranquilo, deixamos Dakar para trás e seguimos viagem rumo a Saint-Louis, uma charmosa cidade no norte do Senegal, situada na fronteira com a Mauritânia. Mika e Samba já estavam nos aguardando para começar mais um dia de aventuras.

No caminho, tivemos um pequeno imprevisto: o porta-malas do carro apresentou problemas e tivemos que parar em uma cidadezinha para consertá-lo. A oficina onde paramos era bastante simples, quase “artesanal”, mas nos ajudaram a resolver o problema. Como já era hora do almoço, aproveitamos para fazer uma pausa em um restaurante de posto na estrada. Experimentei o tradicional frango à yassa, um prato típico do Senegal, e estava delicioso!

Frango à yassa

Chegando em Saint-Louis, fizemos o check-in no Hôtel la Résidence, um belo hotel de estilo colonial que nos encantou com seu charme e atmosfera histórica. Após nos acomodarmos, decidimos aproveitar o restante do dia explorando a pé a cidade, que prometia nos surpreender com sua riqueza cultural e histórica.

Saint-Louis

Distância: 270 km. Duração: 5 horas.

Saint-Louis é uma das maiores cidades do Senegal e, historicamente, uma das mais importantes. Sua relevância é evidenciada pela inclusão na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 2000. Ao lado de Gorée, Rufisque e Dakar, Saint-Louis foi uma das quatro comunas senegalesas que enviaram representantes à Câmara Francesa desde o século XIX, um marco histórico que destaca sua importância política e cultural. Essas comunas, no entanto, não devem ser confundidas com as quatro antigas colônias de cidadania plena (Guadalupe, Guiana, Martinica e Reunião).

Apelidada de “Veneza Africana”, Saint-Louis mantém um charme único com suas casas coloniais que combinam fachadas caiadas, telhados duplos, varandas de madeira e balaustradas de ferro forjado. Nos últimos anos, a cidade embarcou em um ambicioso programa de renovação, restaurando edifícios históricos e transformando antigos armazéns em restaurantes e hotéis.

Fundada em 1659 pelos franceses na ilha homônima do rio Senegal, Saint-Louis foi a primeira cidade europeia na África Ocidental. Com aproximadamente 2 km de comprimento e 300 metros de largura, a ilha foi batizada em homenagem ao rei da França, Luís XIV. No entanto, antes da colonização, era conhecida pelos habitantes locais como Ndar. O chefe local, Diagne de Sor, alugou a ilha aos franceses por um pagamento anual.

No início, Saint-Louis serviu como um centro estratégico para o comércio de ouro, goma arábica, marfim e escravos. A cidade também foi um marco da presença europeia, sendo disputada por portugueses, holandeses e franceses ao longo dos séculos XVII e XVIII. Durante a Revolução Francesa, os habitantes locais adquiriram o status de cidadãos franceses, consolidando a cidade como uma das principais bases coloniais.

Entre 1793 e 1816, Saint-Louis foi ocupada pelos britânicos após a execução de Luís XVI, mas foi devolvida à França pelo Tratado de Viena de 1815, enquanto a Gâmbia permaneceu como colônia britânica. Saint-Louis se destacou como capital política da colônia francesa e da África Ocidental Francesa até 1902, sendo posteriormente a capital do Senegal e da Mauritânia.

Em 12 de maio de 1930, o aviador francês Jean Mermoz partiu de Saint-Louis em um marco histórico para a aviação: a primeira conexão postal transatlântica direta. O voo o levou até Natal, no Brasil, e estabeleceu uma ligação regular entre Toulouse e Santiago do Chile, consolidando a importância estratégica de Saint-Louis no mapa da aviação mundial.

Ndar: o coração vivo de Saint-Louis

O Quai Masseck Ndiaye, localizado às margens do rio Senegal, é um centro pulsante de atividade, onde a vida cotidiana de pescadores e comerciantes se desenrola em um espetáculo cativante. Do outro lado do rio, atravessando a Ponte Moustapha Malick Gayen, encontra-se o bairro pesqueiro de Guet Ndar, situado na Langue de Barbarie, uma das áreas mais autênticas e densamente povoadas de Saint-Louis.

Ndar é conhecido por sua ligação intrínseca ao oceano e ao rio Senegal. Nas ruas estreitas e movimentadas, é possível observar o cotidiano dos moradores, desde crianças brincando e mulheres preparando peixes, até homens partindo para mais um dia de pesca. É aqui que as pirogues, barcos tradicionais pintados em cores vivas e padrões elaborados, chegam carregadas de peixes frescos, criando uma paisagem vibrante e autêntica. Para essa comunidade, a pesca não é apenas um meio de subsistência, mas uma herança cultural que atravessa gerações, moldando a identidade local.

Ao caminhar por Ndar, é impossível não notar o contraste entre o ambiente vibrante e as condições de vida simples dos moradores. Um detalhe curioso é a presença de bodes e cabras em muitas das casas, o que parece ser um recurso importante para a subsistência das famílias.

Apesar das circunstâncias, em nenhum momento nos sentimos inseguros. Pelo contrário, fomos acolhidos pela hospitalidade genuína das pessoas, que se aproximavam com curiosidade, perguntando de onde éramos e compartilhando sorrisos e gentileza.

Ponte Faidherbe: o ícone arquitetônico de Saint-Louis

A Ponte Faidherbe, um dos cartões-postais de Saint-Louis, é uma impressionante estrutura metálica com 507 metros de comprimento e 10,5 metros de largura, composta por sete arcos de ferro. Ela conecta a ilha histórica de Saint-Louis ao continente.

A ponte foi feita de ferro forjado e construída na França, projetada nos estaleiros Eiffel (os mesmos do famoso engenheiro responsável pela Torre Eiffel). Foi transportada em partes para ser montada em Saint-Louis no final do século XIX.

Sua inauguração oficial ocorreu em 1897, sendo um marco do período colonial francês na África Ocidental. Originalmente, a estrutura foi concebida para outro local, mas acabou sendo adaptada para a cidade de Saint-Louis devido à sua importância como centro comercial e político.

Catedral de São Luís: a referência católica da cidade

Esta igreja do século XIX é um símbolo da presença cristã na região, além de ser um testemunho da história colonial francesa no Senegal. Por muitos anos, os cristãos de Saint-Louis não tiveram um local de culto adequado, reunindo-se em espaços improvisados como o forte, o hospital militar ou casas particulares. Durante a ocupação britânica do Senegal, ocorrida na Guerra dos Sete Anos, todas as expressões do catolicismo foram proibidas, o que dificultou ainda mais a prática religiosa.

Com a retomada da colônia pelos franceses em 1817, a situação mudou. Em 1822, a chegada de Anne-Marie Javouhey, fundadora das Irmãs de São José de Cluny, trouxe novos ventos para a comunidade cristã. Ela desempenhou um papel crucial na promoção da construção de uma igreja digna para os fiéis.

O projeto ganhou impulso com o apoio do governador colonial Barão Jacques-François Roger, que lançou a pedra fundamental da catedral em 11 de fevereiro de 1827. Após meses de trabalho, o edifício foi finalmente aberto aos fiéis em 4 de novembro de 1828, marcando o início de uma nova era para os cristãos de Saint-Louis.

Cathédrale Saint-Louis
Conselho Departamental de Saint-Louis: exemplo de arquitetura colonial

O prédio do Conseil Départemental de Saint-Louis foi construído no século XIX, servindo originalmente como sede administrativa do governo colonial francês. Sua arquitetura é marcada por linhas simétricas, amplos terraços e varandas adornadas com grades de ferro forjado, que são uma característica distintiva dos prédios da época. As paredes pintadas em tons claros, típicas do estilo colonial, contribuem para sua aparência imponente, mas ao mesmo tempo integrada ao ambiente tropical.

Conseil Départemental de Saint-Louis
A Grande Mesquita de Saint-Louis: símbolo muçulmano de Saint-Louis

A Grande Mosquée de Saint-Louis, situada na parte norte da ilha, é uma das construções mais emblemáticas da cidade, refletindo a rica herança cultural e religiosa do Senegal. Construída em 1847 por ordem da administração colonial francesa, a mesquita foi uma tentativa de apaziguar e atender às necessidades da crescente população muçulmana de Saint-Louis, que desempenhava um papel cada vez mais importante na sociedade local.

O edifício, projetado em estilo magrebe, destaca-se por sua simplicidade e elegância arquitetônica, com elementos típicos de mesquitas do Norte da África. As linhas limpas e os detalhes sutis da construção remetem ao estilo islâmico tradicional, com influências que refletem a conexão histórica do Senegal com o mundo árabe. No entanto, um detalhe peculiar se sobressai: a presença de uma torre de relógio anexa à mesquita. Essa característica inusitada, herdada do período colonial, revela a tentativa de misturar elementos ocidentais e islâmicos, criando uma fusão arquitetônica única que ainda hoje desperta a curiosidade dos visitantes.

Grande Mosquée de Saint-Louis
Encerrando o dia com sabor local

E para finalizar o dia em grande estilo, optamos por jantar no restaurante do Hôtel la Résidence, onde estávamos hospedados. A escolha foi um delicioso peixe grelhado, típico da região. E, claro, não poderíamos deixar de experimentar a famosa cerveja local, La Gazelle, que complementou perfeitamente a refeição. Um encerramento ideal para um dia repleto de descobertas em Saint-Louis!

Hôtel la Résidence

Conheça o resto de nossa aventura no Senegal nos links abaixo:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *